quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Murilo Mendes

Meu outro eu angustiado desloca o curso dos astros, atravessa os espaços de fogo e toca a orla do manto divino.

O Ser dos seres envia seu Filho para mim, para os outros que O pedem e para os que O esquecem.

Uma criança dançando segura uma esfera azul com a cruz: Vêm adorá-la brancos, pretos, portugueses, turcos, alemães, russos, chineses, banhistas, beatas, cachorros e bandas de música. A presença da criança transmite aos homens uma paz inefável que eles comunicam nos seus lares a todos os amigos e parentes.

Anjos morenos sobrevoam o mar, os morros e arranha-céus, desenrolando, em combinação com a rosa-dos-ventos, grandes letreiros onde se lê: GLÓRIA A DEUS NAS ALTURAS E PAZ NA TERRA AOS HOMENS DE BOA VONTADE.

Murilo Mendes

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Kit Left Revolution

O vídeo abaixo foi feito pelos estudantes de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

João Pereira Coutinho

Escrevi em um dos primeiros posts deste blog que considerava João Pereira Coutinho o melhor colunista da Folha de São Paulo,porèm devo me rectificar: Coutinho è o melhor colunista da imprensa brasileira. Em uma de suas ùltimas colunas na Folha de São Paulo, Coutinho fez um dos melhores textos sobre José Saramago, sintetizou de forma precisa o monstro e o mèdico do único Nobel da língua portuguesa.

Coutinho escreve toda terça-feira na Folha de São Paulo. Sinceramente tem sido a única coisa realmente interessante de se ler na Ilustrada.O caderno de cultura da Folha de São Paulo virou um centro de moderninhos,parece que o editor deixou de ser o Marco António Gonçalves e virou o Tiago Ney.A Ilustrada faz cinquenta anos este ano, tomara que ela recupere a forma e deixe de se pautar por Skol Beats da vida.

Quem quiser conhecer um pouco mais de João Pereira Coutinho è só entrar no site da revista Dicta e Contradicta, là tem uma entrevista com esse grande intelectual português.

Abaixo a primeira parte da entrevista e o último paràgrafo da mais recente coluna de Coutinho.
"Disse e repito: aprender a morrer é uma forma de aprender a viver. Não apenas porque a consciência do fim revaloriza a nossa passagem pela Terra. Mas porque a morte permite dar a cada etapa da vida o respeito que essa etapa merece. Nem mais, nem menos. Só pela aceitação da morte seremos capazes de celebrar a juventude sem histeria e habitar a velhice sem drama. Ou seja, sem a tentação de prolongar patologicamente ambas."

PS-Já que eu mencionei a Dicta e Contradicta, vale a pena lembrar que acabou de sair o segundo exemplar da revista.Provavelmente não està a venda na Leitura, mas è fácil comprar pelo site da Livraria Cultura.

Cahiers du Cinèma

A prestigiada revista francesa Cahiers du Cinéma, uma das mais importantes publicações de cinema do mundo, lança neste mês de Dezembro um livro (intitulado "100 Films pour une Cinémathèque Idéale") com os 100 filmes necessários para se ter uma cinemateca ideal. Na lista há predominância de filmes clássicos e pouca presença de filmes mais novos. Também há uma clara puxação de saco com os filmes franceses , apesar do grande número de filmes americanos (claro, o melhor cinema do mundo não poderia ficar de fora)presentes na lista. A obra de Jean-Luc Godard, um dos principais teóricos da revista, ganha especial destaque (até demais, eu diria) no livro. Chaplin também é homenageado com a presença de alguns de seus principais filmes. Para elaborar a lista a Cahiers consultou 76 cineastas, historiadores e críticos de cinema franceses. Na lista aparecem clássicos como "O Mensageiro do Diabo" (1955) de Charles Laughton, "A Regra do Jogo" (1939) de Jean Renoir e "Cantando na Chuva" (1952) de Stanley Donen & Gene Kelly. Contudo clássicos como "Casablanca" (1942) de Michael Curtiz e "...E o Vento Levou"(1939) de Victor Fleming, que sempre aparecem neste tipo de publicação, desta vez ficaram de fora. Além disso, há contra-sensos como a presença de "Fale com Ela" (2002) de Pedro Almodóvar, que nem é considerado o melhor filme do cineasta espanhol , a ausência de "O Nascimento de uma Nação" (1915) de D.W. Griffith, considerado um dos filmes fundadores da estética cinematográfica - em seu lugar aparece "Intolerância" de 1916, filme que Griffith fez para "se desculpar" pelas críticas recebidas por "O Nascimento de uma Nação" (já que o filme falava sobre a Klu Klux Klan, grupo racista americano - parece que os críticos franceses não quiseram se comprometer e apelaram para a hipocrisia) e a presença de apenas um filme do cultuado diretor sueco Ingmar Bergman (Fanny e Alexander de 1982).

Segue abaixo a lista completa dos filmes escolhidos. Leiam e tirem suas próprias conclusões.

1. Cidadão Kane (1941) - Orson Welles
2. O Mensageiro do Diabo (1955) - Charles Laughton
3. A Regra do Jogo (1939) - Jean Renoir
4. Aurora (1927) - Friedrich Wilhelm Murnau
5. O Atalante (1934) - Jean Vigo
6. M, o Vampiro de Dusseldorf (1931) - Fritz Lang
7. Cantando na Chuva (1952) - Stanley Donen & Gene Kelly
8. Um Corpo que Cai (1958) - Alfred Hitchcock
9. O Boulevard do Crime (1945) - Marcel Carné
10. Rastro de Ódio (1956) - John Ford
11. Ouro e Maldição (1924) - Erich von Stroheim
12. Rio Bravo - Onde Começa o Inferno (1959) - Howard Hawks
13. Ser ou Não Ser (1942) - Ernst Lubitsch
14. Era uma Vez em Tóquio (1953) - Yasujiro Ozu
15. Desprezo (1963) - Jean-Luc Godard
16. Contos da Lua Vaga (1953) - Kenji Mizoguchi
17. Luzes da Cidade (1931) - Charlie Chaplin
18. A General (1927) - Buster Keaton
19. Nosferatu (1922) - Friedrich Wilhelm Murnau
20. A Sala de Música (1958) - Satyajit Ray
21. Monstros (1932) - Tod Browning
22. Johnny Guitar (1954) - Nicholas Ray
23. A Mãe e a Puta (1973) - Jean Eustache
24. O Grande Ditador (1940) - Charlie Chaplin
25. O Leopardo (1963) - Luchino Visconti
26. Hiroshima, Meu Amor (1959) - Alain Resnais
27. A Caixa de Pandora (1929) - Georg Wilhelm Pabst
28. Intriga Internacional (1959) - Alfred Hitchcock
29. O Batedor de Carteiras (1959) - Robert Bresson
30. Amores de Apache (1952) - Jacques Becker
31. A Condessa Descalça (1954) - Joseph Mankiewicz
32. O Tesouro do Barba Rubra (1955) - Fritz Lang
33. Desejos Proibidos (1953) - Max Ophüls
34. O Prazer (1952) - Max Ophüls
35. O Franco Atirador (1978) - Michael Cimino
36. A Aventura (1960) - Michelangelo Antonioni
37. O Encouraçado Potemkin (1925) - Sergei M. Eisenstein
38. Interlúdio (1946) - Alfred Hitchcock
39. Ivan, o Terrível (1944) - Sergei M. Eisenstein
40. O Poderoso Chefão (1972) - Francis Ford Coppola
41. A Marca da Maldade (1958) - Orson Welles
42. Vento e Areia (1928) - Victor Sjöström
43. 2001: Uma Odisséia no Espaço (1968) - Stanley Kubrick
44. Fanny e Alexander (1982) - Ingmar Bergman
45. A Turba (1928) - King Vidor
46. 8 1/2 (1963) - Federico Fellini
47. Sel Sol (1962) - Chris Marker
48. O Demônio das Onze Horas (1965) - Jean-Luc Godard
49. O Romance de um Trapaceiro (1936) - Sacha Guitry
50. Amarcord (1973) - Federico Fellini
51. A Bela e a Fera (1946) - Jean Cocteau
52. Quanto mais Quente Melhor (1959) - Billy Wilder
53. Deus Sabe quanto Amei (1958) - Vincente Minnelli
54. Gertrud (1964) - Carl Theodor Dreyer
55. King Kong (1933) - Ernst Shoedsack & Merian J. Cooper
56. Laura (1944) - Otto Preminger
57. Os Sete Samurais (1954) - Akira Kurosawa
58. Os Incompreendidos (1959) - François Truffaut
59. A Doce Vida (1960) - Federico Fellini
60. Os Vivos e os Mortos (1987) - John Huston
61. Ladrão de Alcova (1932) - Ernst Lubitsch
62. A Felicidade não se Compra (1946) - Frank Capra
63. Monsieur Verdoux (1947) - Charlie Chaplin
64. O Martírio de Joana d’Arc (1928) - Carl Theodor Dreyer
65. Acossado (1960) - Jean-Luc Godard
66. Apocalypse Now (1979) - Francis Ford Coppola
67. Barry Lyndon (1975) - Stanley Kubrick
68. A Grande Ilusão (1937) - Jean Renoir
69. Intolerância (1916) - David Wark Griffith
70. Partie de Campagne (1936) - Jean Renoir
71. Playtime (1967) - Jacques Tati
72. Roma, Cidade Aberta (1945) - Roberto Rossellini
73. Sedução da Carne (1954) - Luchino Visconti
74. Tempos Modernos (1936) - Charlie Chaplin
75. Van Gogh (1991) - Maurice Pialat
76. Tarde Demais para Esquecer (1957) - Leo McCarey
77. Andrei Rublev - O Artista Maldito (1966) - Andrei Tarkovsky
78. A Imperatriz Galante (1934) - Joseph von Sternberg
79. Intendente Sansho (1954) - Kenji Mizoguchi
80. Fale com Ela (2002) - Pedro Almodóvar
81. Um Convidado bem Trapalhão (1968) - Blake Edwards
82. Tabu (1931) - Friedrich Wilhelm Murnau
83. A Roda da Fortuna (1953) - Vincente Minnelli
84. Nasce uma Estrela (1954) - George Cukor
85. As Férias do Sr. Hulot (1953) - Jacques Tati
86. A Terra do Sonho Distante (1963) - Elia Kazan
87. O Alucinado (1953) - Luis Buñuel
88. A Morte num Beijo (1955) - Robert Aldrich
89. Era uma Vez na América (1984) - Sergio Leone
90. Trágico Amanhecer (1939) - Marcel Carné
91. Carta de uma Desconhecida (1948) - Max Ophüls
92. Lola, a Flor Proibida (1961) - Jacques Demy
93. Manhattan (1979) - Woody Allen
94. Cidade dos Sonhos (2001) - David Lynch
95. Minha Noite com Ela (1969) - Eric Rohmer
96. Noite e Neblina (1955) - Alain Resnais
97. Em Busca do Ouro (1925) - Charlie Chaplin
98. Scarface - A Vergonha de uma Nação (1932) - Howard Hawks
99. Ladrões de Bicicletas (1948) - Vittorio de Sica
100. Napoleão (1927) - Abel Gance

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

pitanguy

Não sei o porquê que me pus a escrever sobre minha cidade. Não há nada de especial para destacar sobre Pitangui. Uma cidade que ficou feia com gente igual. Se dissesse que Pitangui parou no tempo seria melhor. Mas não! Ela caminha junto a um ponteiro de relógio que nunca lhe faltou força. Entretanto, isso não soa positivo caro leitor. Muito pelo contrário, é a representação da mais pura leniência da sensibilidade de seu povo.

Tenho por mim que algumas pessoas não vão gostar desse início. Para esses peço paciência. É inegável que muitas das minhas risadas e outros tipos de emoções tem como palco principal a cidade onde nasci. Mas cá entre nós: o lugar é o que importa?Não sei.Pitangui se tornou muito seca para mim. Ficando apenas como um lugar onde vive meus pais. Eu ainda não sei dizer se gosto ou desgosto dela.

Vou falar mais sobre esse tema ou não.

Fábio Saldanha

Beirut

As impressões de um norte americano sobre a música do leste europeu misturadas ao folk. Essa é a principal descrição do estilo interpretado por Zach Condon, natural de Santa Fe, Novo México. Com a Colaboração de Jeremy Barks, do “Neutral Milk Hotel”, e Heather Trost, do “ A Hawk and a Hacksaw”, o cantor se apresenta hoje como Beirut, nome desconhecido por mim até ontem, quando ouvi uma de suas mais bonitas canções.
“Elephant Gun” é recheada de belos arranjos de metais, acordeon e uma levada suave do ukele, uma espécie de cavaquinho havaiano que faz toda diferença na melodia. Sem falar na interpretação do cantor que com uma voz macia e um pouco “chorosa” se associa perfeitamente à instrumentação e faz a gente sentir toda a emoção que a música pretende transmitir.
A canção faz parte do EP Elephant Gun, lançado em junho de 2007. Vale a pena conferir não só essa canção mas todo o trabalho do cantor. Vai aí pra quem se interessar, o vídeo da música “Elephant Gun”, que faz parte da trilha sonora da minissérie “Capitu”, exibida atualmente na Globo.
Let the seasons begin!


Reinterpretação dos olhos de ressaca

Vamos dar uma espairecida no clima político-econômico-discursivo-da-conjuntura-internacional-ou-sei-lá-o-quê do nosso amigo Pedro. Falemos então de entretenimento, talvez para as massas, talvez não. Falemos de Capitu.

A microssérie da Rede Globo é um dos melhores produtos que a emissora já fabricou para ocupar os buracos da programação de fim de ano. Os cinco episódios foram produzidos dentro do Projeto Quadrante, que colocou nas mãos de Luiz Fernando de Carvalho e equipe a responsabilidade pela adaptação de obras essenciais da literatura de cinco regiões brasileiras. A primeira (e cara) façanha do grupo, A Pedra do Reino, limitou os recursos de Capitu. Felizmente, o orçamento enxuto exacerbou as capacidades criativas da equipe, que fez coisas inacreditáveis tendo um galpão apodrecido como estúdio, e externas com figurino de época em pleno centro do Rio de Janeiro.

Afora as discussões sobre a relevância comercial da obra, que rendeu metade dos pontos no IBOPE de "Toma Lá, Dá Cá", e as eternas conjecturas a respeito da adaptação de literatura para o público de TV, acho importante fazer algumas considerações:

• a série não precisa da leitura do livro para ser compreendida, até porque é um produto transformado da obra original. Não é como se adaptassem a história dando uns cortes de tempo, é uma reinterpretação dos sentidos de cada elemento da história do Machado. Mas com certeza, como sempre acontece nesses casos, é mais saboroso para quem leu o livro (e gostou). É como assistir ao Elephant Medley, do Moulin Rouge, conhecendo as músicas que são emendadas.

• o tom "semi-noir" da série, apesar de ser um clichê em produções desse tipo, combina perfeitamente com o clima da narrativa. Lembremos que trata-se de um velho decrépito e amargo, que busca em suas memórias algum conforto, mas que acabou destruído por uma dúvida angustiante. Obscuridade e depressão definitivamente fazem parte dessa história.

• as memórias são a base desta narrativa; é preciso duvidar do que Bentinho diz, pois ele se recorda apenas do que lhe convém para comprovar ao leitor a opinião que firmou a respeito de Capitu. Naturalmente, é bem mais fácil duvidar do que está escrito do que daquilo que vemos. Provavelmente por isso, a série tem um tom teatral exagerado, que realça o caráter de "montagem" da imaginação; uma verdade reinterpretada.

• li em algum lugar que a trilha sonora e os takes externos foram planejados para resgatarem o texto como algo contemporâneo, por tratar de emoções humanas básicas e imutáveis. Por isso vemos Bentinho e seu vizinho no trem grafitado, ao som de rock; a história de Dom Casmurro se repete diariamente, na cidade grande ou nos subúrbios, e continuará acontecendo enquanto seres humanos se relacionarem.

Resta aguardar o desenrolar do programa, e descobrir até onde esse jogo de símbolos e linguagens consegue chegar sem ficar enfadonho. Até agora, a Globo sai ganhando, ainda que perdendo na audiência. Com certeza já tem alguém reservando espaço em uma estante platinada para alguns Emmys...

Façam suas apostas

A Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood (HFPA) anuncia amanhã, às 5 horas da manhã (horário de Los Angeles) , os indicados ao Golden Globe 2009. A premiação que está em sua edição de número 66 (a primeira foi nos idos de 1944) , inaugura oficialmente a corrida pelo Oscar e dá fortes indícios dos possíveis indicados ao prêmio da academia. Os aficionados já estão fazendo suas apostas e já surgem os primeiros favoritos. Sempre é arriscado fazer apostas, mas mesmo assim arrisco alguns palpites (que Deus me ajude). Espero acertar.
Agora é voltar os olhos para Hollywood e espera as indicações serem anunciadas.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Itàlia

Ontem dois marroquinos foram presos na Itália. De acordo com as autoridades italianas, ambos estariam preparando um ataque terrorista em Milão, e teriam conexões com a rede terrorista de Osama Bin Laden.

Imediatamente a Lega Nord, partido da base do governo Sílvio Berslusconi, através do deputado Roberto Cota, líder da Lega Nord na Câmara, protocolou um pedido de moratória na construção de mesquitas e centros espirituais islâmicos.A mensagem diz o seguinte :" Pedimos uma moratória por tempo indeterminado no que concerne a construção de novas mesquitas e supostos centros culturais até a aprovação pelo Parlamento de uma lei que regulamente a construção de edifícios de culto.Apresentaremos um moção parlamentar com tal objetivo."

Sinceramente eu não sei o que será da Itália. Não tenho estômago para ficar comentando esse tipo de noticia. Meses atrás, aqui perto de Veneza um grupo de muçulmanos, depois de meses procurando, conseguiu finalmente achar um prédio que poderia servir de Mesquita. O prédio tinha sido no passado um bordel, mas era a única opção, então eles decidiram comprar mesmo assim. Porém dias antes do fechamento do negocio o prefeito da cidade fez uma oferta maior e comprou o prédio. Ate hoje o antigo bordel està
desativado, a prefeitura não fez absolutamente nada com o antigo edifício.

Abaixo três vídeos de Cat Stevens/Yusuf Islam em homenagem a Roberto Cota.



Holywood e a Política Americana

O que vai abaixo è um texto de André Bezamat. André è estudante de Relacoes Internacionais na Puc-Mg. Certamente ele serà um dos grandes analistas internacionais brasileiro. Tomara que o Brasil nao o estrague. O problema do Brasil è que o nível è tão ruim que acabamos acomodando.


Holywood e a Política Americana
Andrè Bezamat
Acompanhei essas última eleições americanas diariamente,desde as disputadas prévias do partido democrata ao discurso de fechamento,muito emocionante e bem elaborado por sinal,de Barack Obama(aliás,como todos os seus costumam ser). Devo admitir que todo o trajeto,tendo Obama como o principal protagonista, foi muito excitante! Começando quando o senador negro de ilinois,que ninguém colocava fé alguma,largou um pouco atrás da tão temida e já tida por muitos a futura presidente,Hillary Clinton. Aliás,independente de Obama,um negro,jovem,com passado um tanto quanto ''cheio de aventuras'',um sujeito globalizado,que tem hussein no nome,filho de keniano,que já morou na indonésia e supostamente nasceu no Havaí, ter entrado na corrida presidencial,só a participação de uma mulher, com o passado de Hillary,ex mulher de um presidente(que mesmo com todas as críticas que já recebeu durante sua longa presidência, era um homem que também possui um certo carisma,de uma fala invejável, um ar boa pinta e fama de garanhão) e que tomou um chifre aos olhos do mundo inteiro, depois se recuperou e se elegeu senadora por Nova York,já dava uma emoção interessante à iniciada corrida para presidência.
Obama e Hillary nos proporcionaram um confronto que foi realmente de tirar o fôlego. Ele como o azarão que ameaçava desbancar o clã dos Clinton, e ela aquela mulher do século 21 que nunca desiste,como nós brasileiros! Parecia a disputa para presidência,antes mesmo de começar a verdadeira,que prometia ser ainda mais sangrenta. Assistindo a tudo isso dá até vergonha de ver o modo como nossos partidos aqui escolhem seus candidatos. Imaginem Serra e Aécio em 2010 andando pelo Brasil afora e debatendo na record sobre quem seria melhor candidato do PSDB? Agora abram os olhos,isso é pura viagem mesmo!
Acabou a tão desesperada guerra, e sabíamos então quem seriam os candidatos: Obama e John Mcain! Esse último , um cidadão com história,que já ficou preso nas masmorras de Hanoi e sofreu o pão que o diabo amassou nas mãos dos comunista vietnamitas que não brincavam em serviço. Esse homem,um velho,que não possui destreza em certos movimentos corporais,de fala um tanto quanto presa,sem desenvoltura,mas que era um herói nacional e que levava anos de bagagem política nas costas,tinha pela frente a hercúlea missão de derrotar a mais nova sensação americana e mundial. A Paris Hilton do meio político.
Para ajuda-lo em tal missão,nosso bravo xerife do arizona recruta uma outra figura muito interessante: a governadora do Alasca(aquele estado de grande peso econômico que do quintal de qualquer casa se pode avistar a Russia,sabe?)Sara Pahlin.A caipira de valores super conservadores,que não tinha passaporte,uma mãezona e que estava pronta para bater de frente com quem quer que fosse.
Esses personangens todos estavam em um cenário um tanto quanto anormal também. Além de um conflito militar ocorrer ''do nada'' entre a Rússia e a Geórgia,o mundo se viu no meio de uma catástrofe ecônomica sem precedentes. Mas poderia um negro ser eleito o homem mais poderoso do mundo? Será que os americanos estavam preparados para isso?
Não faltou quem ajudasse nosso mocinho protagonista Obama a superar isso tudo e chegar lá. Primeiros aliados: a imprensa, liderados pelos generais new york times e washington post, que não deixaram que notícias que sujassem a imagem de bom moço de Obama fossem levadas a sério.Segundo aliado:o destino,que arrebentou o já destroçado governo repúblicano do presidente George W Bush com a tal crise financeira.
Não faltou aquelas pontas cômicas que arrancam risadas das platéias.Alguém quer personagem mais cômico que o saudoso pastor que falou que o 11 de setembro foi culpa dos próprios americanos? E do mafioso que financiou os estudos de Obama? E do terrorista que escreveu aquela maravilhosa obra SONHOS DO MEU PAI?
Enfim,relembrando toda essa trajetória da campanha presidencial dos Estados Unidos,me sinto como se tivesse visto um filme. Um filme muito bom,por sinal! Com personagens interessantes e engraçados,e o iluminado vencendo no final,depois de tantos percalços,contra uma megera malvada e prepotente e os falcões repúblicanos virulentos do establishment no final!
Para finalizar,como todo filme bom que se preze, pude ver o special one no fim,convidar sua dear friend,Hillary Rodham Clinton,para ser sua mais nova Condoleeza Rice! Final feliz para todos,ele o homem mais poderoso do mundo, ela,como sempre quis(e como nós,não desiste nunca)a mulher mais poderosa do mundo.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Obama

Michael Lind
The meaning of Obama


What is the meaning of Obama? It is, of course, impossible to evaluate a presidency that has yet to occur, notwithstanding premature declarations that he will be a "transformational" president to compare with giants like Lincoln and the two Roosevelts. But it is not too early to analyse the meaning of his election.The fact that a mostly white democracy has elected a biracial chief executive is epochal in itself. Liberal democracy is now firmly rooted in much of the world, but many, if not most, liberal societies today would not choose to be led by someone who does not look like a member of the dominant tribe. Its history of slavery and apartheid notwithstanding, that can no longer be said of the United States of America.The nightmare of the racist right in the US has always been "race-mixing." It was particularly moving therefore to see a mixed-race president, who had begun his presideantial race in Abraham Lincoln's Springfield, Illinois, conclude it on election night with an address to a jubilant multiracial crowd in Chicago's Grant Park, named after the general who defeated the slave south in the civil war. There were many ghosts among that crowd.But Obama was not elected because the American people chose to set an example of colour-blind democracy for the world. He was elected because the 2008 presidential election was a referendum on George W Bush's two disastrous terms. And whether Obama's election marks a transformation or a restoration depends on how the regime of his predecessor is viewed. If Bush's presidency was an aberration, then Obama's election can be seen as a restoration. On the other hand, if Bush's presidency was typical of an earlier pattern, then Obama's election can be viewed as a novel departure.

A eleição de Barack Obama é o tema da principal matéria de dezembro da Prospect.
A matéria completa está aqui
http://www.prospect-magazine.co.uk/article_details.php?id=10503

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Veneza

Veneza foi invadida pelas águas.Nada de aula de Língua Persa e de Direito Muçulmano. Desde 1986 não se via uma maré tão alta. Hoje o nível da água chegou a 156cm. Água alta é como neve, só agrada à turista.
Abaixo algumas fotos;






Entrada do meu prédio.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

FALA MENDONÇA DE BARROS – EM QUEM A CRISE VAI DOER MAIS

Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações no governo FHC, é hoje economista-chefe da Quest Investimentos. Dentro do governo ou fora dele — já há muitos anos —, sua capacidade de antecipar cenários, com impressionante dose de acerto, é reconhecida por admiradores e adversários. Na entrevista abaixo, concedida com exclusividade a este blog[o dele,claro], ele diz qual é a fatia dos brasileiros que vai sentir primeiro os efeitos da crise global — que já chegou ao Brasil, incomodando bem mais do que uma simples marolinha. Com base em dados colhidos pela MB Consultores Econômicos, ele afirma que “haverá uma redução importante nos rendimentos do trabalho dos brasileiros com renda superior a 10 salários mínimos”. Pois é, leitor amigo...

Uma das características de Mendonça de Barros é pensar as implicações políticas da economia. Não havendo um agravamento da crise, ele antevê: “O presidente Lula não enfrentará um quadro de desastre que possa destruir o apoio que hoje tem dos mais de 50% dos brasileiros que ganham menos de cinco salários mínimos (...). Eles devem apenas sentir a interrupção da melhora ocorrida nos últimos anos, não uma queda expressiva nos seu nível de vida.”

O país crescerá os 4% antevistos pelo ministro Guido Mantega (Fazenda)? “Com a redução da demanda chinesa, os preços das commodities exportadas pelo Brasil voltaram ao nível de 2002, eliminando, dessa forma, os ganhos na nossa capacidade de importar. Este movimento é que obriga o Brasil a crescer novamente a taxas de 2,5 % ao ano”, afirma Mendonça de Barros.

Na conversa abaixo, ele lembra que os economistas esperavam há tempos uma drástica desaceleração da economia mundial. A crise que chegou, diz, traz características que já tinham sido antevistas, mas também surpreende em muitos aspectos. Segue a entrevista:

Há alguns anos, economistas falam do risco do “The Big One” na economia, aquela que seria realmente uma crise grave, com terríveis efeitos globais. Queria que o senhor caracterizasse a crise que se esperava então.

Há muitos anos vivemos um grande desequilíbrio macroeconômico no mundo, representado pelo excesso de consumo privado nos EUA e de poupança em parte importante do mundo, principalmente na Ásia. Mais recentemente, durante a era Bush, o governo passou a incorrer também em grandes déficits fiscais. Em outras palavras: a taxa de poupança americana ficou ainda mais negativa, o que levou os EUA a ter déficits crescentes em seu comércio com o mundo exterior, como ensina qualquer livro-texto de economia.

Como os EUA emitem a moeda internacional, que é o dólar, esse desequilíbrio se transformou em uma fonte de instabilidade cambial, com um processo continuado de desvalorização da moeda americana. Criou também uma situação de excessiva liquidez no sistema bancário mundial, provocando uma expansão desordenada do crédito em vários países do mundo, principalmente nos próprios EUA, à medida que os dólares exportados voltavam para Wall Street. Essa dinâmica atingiu um estagio gravíssimo nos últimos dois anos, com um aumento brutal da liquidez financeira.

Um dos resultados deste processo de expansão do consumo americano foi o crescimento vigoroso de um grupo de economias emergentes – liderados pela China – por meio do comércio exterior e do investimento privado no setor industrial exportador. Os recursos gerados pelo crescimento de suas exportações passaram a ser reciclados para os EUA por intermédio de aplicações financeiras, fechando o ciclo de desequilíbrios e financiando o déficit externo americano. Vale dizer: governos como o chinês e os dos países exportadores de petróleo equilibravam a balança de pagamentos americana por intermédio da compra maciça de títulos emitidos por Washington.

A correção desses desequilíbrios era uma questão de tempo e viria necessariamente por uma redução do consumo nos EUA e de um aumento da poupança privada – principalmente das famílias – da ordem de 7% a 10% do PIB. A esse movimento tectônico, os economistas passaram a chamar de “The Big One”, expressão tomada emprestada do grande terremoto que se espera na região de Los Angeles.

Para ler o resto desta entrevista é só ir ao Blog do Reinaldo Azevedo. Pois eu não ser precessado (RS) !

sábado, 22 de novembro de 2008

País dos Petralhas em BH

Foi na livraria Leitura Mega Store do BH Shopping na última segunda [17/11], que o livro “País dos Petralhas” foi lançado pelo seu autor – Reinaldo Azevedo. Eu estive lá para conferir. Apesar de alguns probleminhas na faculdade que fizeram com que eu chegasse 1H depois do combinado, tudo correu bem.
Seguem as fotos que eu fiz com o meu celular, pois não tive tempo de voltar em casa para pegar a minha câmera.

























quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Madeleine Peyroux

Aécio Neves declarou uma vez que a única coisa que se pode fazer em Belo Horizonte é ir ao Mineirão. Durante muito tempo concordei com ele. Não porque acho que ir ao Mineirão seja um bom programa, mas devido ao fato de não ter nada realmente interessante em BH.
Adoro Belo Horizonte, e não me vejo morando em outra cidade, a não ser Veneza, por muito tempo. Nao obstante, sempre achei impossível que alguém que não tivesse nascido em BH pudesse gostar de morar aí.
Mas de uns tempos pra cá essa minha opinião està mudando. Hoje qualquer pessoa que queira pode fazer um bom programa na cidade, é só dar uma olhada na programação do Palácio das Artes, por exemplo. A Quarta-erudita é uma das iniciativas mais bacanas.
A Orquestra Sinfônica também está voltando a ganhar uma certa vitalidade. Quase toda terça-feira tem um concerto a preço popular – R$5,00 (!).
Não sei se o governador continua indo ao Mineirão, mas posso garantir que nunca o vi em uma apresentação da Orquestra Sinfônica. Sempre vejo o vice-governador e a secretària de cultura Eleonora Santa Rosa. Talvez a grande qualidade do Aécio Neves seja essa. Aécio não sabe nada sobre Belo Horizonte, porém soube escolher uma boa secretària de cultura.
Agora chega de falar bem do governo, porque mesmo que eu tentasse não conseguiria superar o Estado de Minas.
Fiz esse nariz de cera todo para comentar a apresentação que a Madeleine Peyroux fará em Belo Horizonte. Não entendo nada de jazz, e não suporto quem entende de jazz assim como não suporto enólogo. Na verdade não suporto quem faz duas aulinhas de degustação e sai ditando normas de harmonização. Apesar de não saber nada sobre jazz ,acho a Madeleine Peyroux fantástica.
E finalmente ela poderá tocar em lugar decente desta vez. A sua ùltima apresentação na Capital, se não me engano, foi em 2006 no Marista Hall. Não estou contando a sua apresentação no festival de jazz de Ouro Preto. Pergunto-me, como alguém tem coragem de contratar um artista para realizar um show em um lugar como aquele. Toda vez que eu vou ao Marista Hall eu prometo que é a última.
Pois bem, dessa vez a Dona Madalena se apresenta no Palácio das Artes.O show será dia 06 de Dezembro(sábado).
Os ingressos custam:
Platéia I - R$ 200 (inteira) e R$ 100 (meia entrada)
Platéia II - R$ 180 (inteira) e R$ 90 (meia entrada)
Platéia Superior - R$ 150 (inteira) e R$ 75 (meia entrada)
Informações- 3236-7400
PS- E amanhã tem concerto da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. No programa ,Debussy,Ravel, Strauss e Corigliano.Vale a pena!
Abaixo dois vídeos da Dona Madalena.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Sophie Hannah

Leaving and Leaving You

When I leave your postcode and your commuting station,
When I leave undone the things that we planned to do,
You may feel you have been left by association,
But there is leaving and there is leaving you.

When I leave your town and the club that you belong to,
When I leave without much warning or much regret,
Remember, there’s doing wrong and there’s doing wrong to
You, which I’ll never do and I haven’t yet,

And when I have gone, remember that in weighing
Everything up, from love to a cheaper rent,
You were all the reasons I thought of staying
And you were none of the reasons why I went

And although I leave your sight and I leave your setting
And our separation is soon to be a fact,
Though you stand beside what I’m leaving and forgetting,
I’m not leaving you, not if motive makes the act.

Sophie Hannah

domingo, 16 de novembro de 2008

Roberto Carlos

Quem acha que o nosso Rei dos motéis não pode ser mais cafona, è por que nunca o escutou em italiano. Abaixo, três vídeos em que Roberto Carlos canta em italiano.E só uma observação. O pior de Roberto Carlos não são suas mùsicas, mas o seu desprezo pela liberdade de expressão. Além de ter proibido a venda de sua biografia, Roberto Carlos na década de 80, defendeu a proibição da exibição no Brasil do filme Je Vous Salue, Marie, de Jean-Luc Godard.





sábado, 15 de novembro de 2008

Imigração: caso holandês

Em um dos primeiros posts deste blog, o Pedro descreveu a situação da imigração na Itália. Fiz um comentário no texto e não gostaria de ser vista como xenófoba. Escrevo para esclarecer minha opinião sobre o assunto.
Não sou contra a imigração, mas acredito que a os países, principalmente os europeus, devem estabelecer certas regras para a entrada de estrangeiros. Tais medidas com certeza não me beneficiariam como imigrante, mas trariam maior conforto para quem vive no país de uma forma geral.
Para melhor exemplificar, utilizarei o caso holandês. Após o assassinato de Theo van Gogh, cineasta e crítico do fundamentalismo islâmico, por um jovem islâmico de origem marroquina, as leis de imigração holandesas tornaram-se mais rígidas. Marroquinos e turcos correspondem hoje a cerca de 3% da população total do país.
Não quero parecer generalista, mas muitos problemas do país vêm da imigração. Grande parte dos estrangeiros que vivem no país mora em guetos, não se interessam pela cultural local e mesmo com muitos anos de convivência com holandeses não falam a língua. Portanto, eles formam pequenas comunidades que preservam as suas culturas.
Em outubro deste ano Ahamed Aboutaleb, 47 anos e marroquino, foi eleito o prefeito de Roterdã. Quem irá governar o maior porto do mundo tem as mesmas raízes de quem matou Theo. Este foi um resultado comemorado pelos imigrantes, que vêem na vitória uma maior aceitação dos holandeses aos estrangeiros.
Não sei como avalio a conquista, pois dentro do país ainda há muito preconceito. Fui vítima, várias vezes, de uma discriminação discreta por parte dos holandeses. Eles são muito politicamente corretos, por isso nunca vão admitir abertamente que não gostam de imigrantes. Grande maioria preserva certa distância.
As pessoas de maior poder aquisitivo na Holanda pagam inúmeros impostos para dar suporte aos estrangeiros que entram no país. O governo oferece uma ajuda em dinheiro para os cidadãos que moram na Holanda legalmente e não possuem emprego. Portanto, se você é um estrangeiro legal, você possui todas as regalias de um holandês. Esta proteção irrita alguns holandeses, pois muitos turcos, por exemplo, não estão se quer preocupados em falar a língua natal do país.
Percebi grande diferença depois que comecei a falar holandês. As pessoas se abriram e tornaram-se mais atenciosas comigo. Por isso considero a questão preconceito também muito relativa (vide um post antigo) como tudo hoje. Sofre discriminação quem não se adapta a um novo estilo de vida. A partir do momento em que você decide viver em outro país é imprescindível que você queria conhecer a cultura e tornar-se parte dela.
Claro que a situação que eu descrevo possui suas exceções, porém se pode mudar muitas coisas através da adoção de uma nova postura. O respeito é conquistado com o tempo, seja no seu país de origem ou em qualquer lugar do mundo.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Lula e Berlusconi

O texto abaixo foi escrito por Diogo Mainardi em 2003.


O nosso Berlusconi
Diogo Mainardi

Lula é igual a Silvio Berlusconi, o primeiro-ministro da Itália. É o Berlusconi da esquerda. Berlusconi assumiu o poder dois anos atrás com a promessa de reativar a economia italiana. Como nesse período a economia italiana ficou estagnada, crescendo ainda menos que a média européia, Berlusconi dobrou a aposta e passou a prometer que em breve o governo dará início a uma mítica fase dois. Lula adotou a linguagem berlusconiana e também prometeu dar início à fase dois. Essa fase dois, segundo o governo brasileiro, é um ciclo de desenvolvimento que irá gerar um crescimento de 4% do PIB. Berlusconi ganhou as eleições prometendo crescimento de 4% do PIB.
Berlusconi, como Lula, não gosta de ser interrogado pela imprensa. Prefere discursar para platéias de adoradores, indo de um lado para o outro do palco, com o microfone na mão, aplaudido pela claque, como um animador de auditório. Berlusconi não tem grande educação formal, mas seus escorregões gramaticais servem para tirar a pompa e aumentar a identificação do público. Em todas as ocasiões, Berlusconi conta a fábula de sua ascensão social. De origem humilde, tornou-se o homem mais rico da Itália, uma versão capitalista de Lula, o retirante nordestino que saiu do pau-de-arara para o Palácio do Planalto. O pensamento de Berlusconi só admite parábolas futebolísticas. Ao tratar de economia, da reforma previdenciária ou do Afeganistão, ele sempre cita o Milan, da mesma forma que Lula sempre cita o Corinthians. A diferença é que Berlusconi é dono do Milan, enquanto Lula não passa de um torcedor do Corinthians. É a diferença que há, atualmente, entre direita e esquerda.
Berlusconi acha que tudo pode ser resolvido com uma boa conversa. Os jantares em sua casa são mais importantes que as reuniões no Parlamento, mais ou menos como os churrascos de Lula. Berlusconi acha também que seu prestígio internacional pode levar a uma rápida solução dos maiores problemas da humanidade. Ele já se atribuiu o mérito de ter evitado uma crise nuclear entre Estados Unidos e Rússia, e, outro dia mesmo, em Israel, apresentou uma receita milagrosa para acabar o conflito no Oriente Médio. Lula é igual. Chegou à reunião do G-8 e logo tirou da cartola uma solução muito simples para a fome no mundo. Os países desenvolvidos ignoraram a proposta, mas nossos chargistas perceberam seu alcance histórico. Chico Caruso, na TV, mostrou Lula marcando um gol de letra contra a fome. Berlusconi e Lula contam com o apoio irrestrito da TV. Berlusconi é dono da TV italiana. Lula não é dono de nada, mas conhece o segredo do cofre para salvar os empresários do setor.
Outras analogias entre Berlusconi e Lula: ambos reclamam dos juros, ambos culpam os governos anteriores por seus fracassos, ambos concederam anistias fiscais para cobrir o rombo estatal, ambos pressionam o FMI para tirar os investimentos em infra-estrutura do cálculo do déficit, ambos prometem criar empregos através de incentivos à produção. Pouco a pouco, os italianos estão se desencantando com Berlusconi, como demonstraram as eleições da semana passada. O populismo berlusconiano começa a perder o fascínio dois anos depois de conquistar o governo. Lula ainda chega lá.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

A Não Noticia


Lula na Itália? Onde você viu isso? Claro, claro, a Ilze Scamaparini te contou. Mas, como eu não posso ver os belos casacos da Ilze não fiquei sabendo que o guia genial está por aqui. Eu entendo que ela faça a cobertura da visita do Lula. Como se sabe, não é todo dia que um Papa morre, e não quero que o Ali Kamel perceba que a Itália não é assim tão relevante. Fui procurar algo na imprensa italiana sobre a visita e nada encontrei. Mas como "sou brasileiro e não desisto nunca" continuei procurando. Pensei: como é que pode a imprensa italiana não noticiar nada da visita do chefe de estado do gigante latino-americano, do homem que foi o inicio de tudo, o homem que possibilitou que Obama fosse eleito? Não, não é possível, deve ter sido publicado algo sobre a visita do nosso guia genial. E não é que achei?! Estava lá, no cantinho do site do Corriere della Sera. Lula sendo recebido por Berslusconi junto aos brasileiros do Milan. Empolgado fui ver do que se tratava. Entretanto, para a minha decepção, não tinha nada escrito. Eram apenas fotos. http://www.corriere.it/gallery/Sport/vuoto.shtml?2008/11_Novembre/lula/1&1 A grande vantagem de morar fora è perceber o tamanho da nossa irrelevancia. Ninguém da bola para o Brasil. Não, não tenho complexo de vira lata. Não tenho recalque por ser brasileiro. Nunca me senti inferior por ser brasileiro. Não acho que exista tanta diferença entre aqui e aí. Como diria Bruno Tolentino "O ser humano é incorrigível, só que abaixo do equador se percebe mais facilmente". Só não me incomodo mais que o Brasil seja visto como o país do futebol, de mulheres fáceis, do Carnaval. Não vou perder meu tempo mostrando que temos Bruno Tolentino, Mário Faustino, Machado de Assis. Não preciso sair gritando que " Lavoura Arcaica " o livro e o filme são duas obras primas. Não me importo que Kill Bill seja mais comentado que Lavoura Arcaica, que Quentin Tarantino seja venerado. Kill Bill é um sinal dos tempos. Não obstante, somos irrelevantes, paradoxalmente, por bons motivos. O Brasil, e isso não é um cliché,è um dos poucos países em que os Povos do Livro convivem harmoniosamente. E isso não tem nada a ver com o homem cordial de Sérgio Buarque de Holanda. O que Sérgio Buarque denuncia é o nosso servilismo, a nossa falta de interesse por tudo aquilo que é perene, uma tentativa de sempre dessacralizar as coisas. Como mostra o pai do Chico, no período colonial as pessoas frequentavam a Igreja não para rezar mas para serem vistas - rezar não era algo espiritual mas apenas um compromisso social. Esse nosso desapego e desprezo pelas grandes questões é algo bastante positivo nas relações. É o relativismo suave de que fala João Pereira Coutinho, "O relativismo das coisas menores. Como um tempero que se coloca sobre o prato da vida, só para dar algum sabor mortal a tudo o que fazemos e sentimos. É o relativismo suave que ensina que nada tem uma importância tão absolutamente esmagadora quando o fim é certo e o esquecimento também". O nosso grande problema é que levamos esse relativismo suave para todos os campos. O mundo acadêmico brasileiro é isso. Não existe o confronto, o debate. A única discussão é sobre quem comeu quem. Podem fazer um teste: pesquisem sobre Bruno Tolentino. Não se discute a sua obra mas a sua biografia. Temos o prazer do conchavo. O PSDB por exemplo jamais fez uma prévia para escolher um candidato a presidente. Alckmin se tornou candidato durante um jantar ente FHC, Serra, Aécio e Tasso Jereissati. Aécio Neves por exemplo é o paladino dos conchavos. Segundo Aécio, a eleição de Márcio Lacerda é o exemplo que Minas tem a dar ao Brasil. Aécio, que como gosta de dizer é carioca, pode ficar com essa Minas Gerais. Minas para mim é Adélia Prado, Murilo Mendes e Drummond

Para Stefânia


Sou um obcecado pela passagem do tempo. Mais especificamente sobre os anos que perdemos - os anos que o gafanhoto comeu. Como diz Deus no Antigo Testamento "Eu vos recompensarei pelos anos que o gafanhoto comeu" .
Então, um feliz aniversário Stefânia!


Bruno Tolentino

Provavelmente porque o ser se intranqüiliza
de já não ser o que ia sendo; intensamente,
porque as fogueiras de um martírio impenitente
são seus triunfos, seus troféus cheios de cinza;
e finalmente porque tudo o que agoniza
quer promulgar, solenizar o impermanente,
o coração, naquele fundo ambivalente
da coisa humana, momentâneo como a brisa,
mas persuadido de que as músicas da mente
hão de reter do ser algo mais que uma soma,
o coração vive das sombras de um aroma.
Só muito raramente esse iludido sente
a força de acordar antes que a luz cadente
o deixe louco como à mosca na redoma.

Pedro Fonseca

domingo, 9 de novembro de 2008

Reinaldo Azevedo

O cubanófilos brasileiros — e o maior de todos eles, como sabemos, é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva — querem revogar a Lei da Anistia. Apenas para um dos lados, é claro. Aqueles que aplicaram a Manual da Guerrilha, de Carlos Marighella, continuariam por aí — ou melhor: por lá. Alguns dão expediente no Palácio do Planalto. O manual de Marighella fazia a defesa do terrorismo. Segundo a Constituição brasileira, terrorismo é crime imprescritível.
A lambança em relação ao assunto obedece ao jeito petista de fazer as coisas. Começou com os ministros Tarso Genro (Justiça) e Paulo Vannuchi (Direitos Humanos), um tanto modestamente. De saída, ninguém comprou a tese porque, afinal, a Lei da Anistia é clara e tem uma historia política, comprometida com a pacificação do país. Eles insistiram. O PT chegou a divulgar uma nota dizendo que não era o caso de rever nada. A tese da dupla ganhou alguns simpatizantes na imprensa — os isentos de um lado só, velhos conhecidos. O parecer da Advocacia Geral da União (AGU), que só cumpriu o seu dever técnico — até Tarso admite isso —, assanhou os “vitimistas” de plantão, alguns deles usuários práticos do manual do bom terrorista de Marighella.
Lula estaria pressionando a AGU por um parecer “neutro”, já que a questão acabará mesmo sendo decidida pelo STF. Se isso acontecer, AGU pra quê? Que seja substituída pelo Magistrado-em-chefe: o próprio Apedeuta.
Mas volto ao primeiro parágrafo. Apedeutakoba, que deixou prosperar esse debate bizantino, lembrou de pedir a Barack Obama o fim do embargo a Cuba. Embutiu a sua reivindicação nas primeiras palavras de saudação ao presidente eleito dos Estados Unidos. Lula quer uma espécie de “anistia” histórica para o regime criminoso de Fidel e Raúl Castro sob o pretexto de que está defendendo os interesses do sofrido povo cubano. O embargo, hoje, já não tem efeito pratico nenhum. A ditadura e a miséria em Cuba são obras dos facínoras que a governam e nada tem a ver com o dito-cujo. Seu fim, sem a exigência da contrapartida democrática, seria admitir a tirania como aceitável.
Não! Os cubanófilos não querem saber de anistia política em Cuba. Tampouco de condenar torturadores — porque, claro, teria de começar pelo seus dois maiores homicidas: Fidel e Raúl Castro. Ao contrário, não é? Lula está empenhado em garantir a sobrevida da ditadura desses dois humanistas, que são 2.700 vezes mais homicidas — considerando-se os mortos por 100 mil — do que a ditadura militar que houve no Brasil.
Assim, segundo os critérios do PT, as 424 (¹) mortes havidas durante a ditadura brasileira fazem os facínoras, mas as 95 mil (²) havidas em Cuba fazem os heróis. Essa gente pouco séria tem, no entanto, de ser levada a sério. E combatida.***
(1) Os números não são meus. Estão no livro Dos Filhos Deste Solo, do petista Nilmário Miranda. Mas atenção! Pessoas mortas ou desaparecidas efetivamente ligadas a organizações de esquerda somam 293 (ver lista abaixo), incluindo guerrilheiros e terroristas que morreram de arma na mão e quatro justiçamentos (esquerdistas executados pelos próprios “companheiros”). Para se chegar a 424, incluem-se supostos casos, mas sem comprovação. A lista é esta:ALN-Molipo – 72 mortes (inclui quatro justiçamentos)
PC do B – 68 (58 no Araguaia)
PCB – 38VPR – 37
VAR-Palmares – 17
PCBR – 16
MR-8 – 15
MNR – 10
AP – 10
POLOP – 7
Port - 3
(2) Fidel mandou matar em julgamentos sumários 9 479 pessoas. Estima-se que os mortos do regime cheguem a 17 000. A fonte: O Livro Negro do Comunismo. Dois milhões de pessoas fugiram do país – 15% dos 13 milhões de cubanos. Isso corresponderia a 27 milhões de brasileiros no exílio. Dados esses números, Fidel matou, pois, 130,76 indivíduos por 100 000 habitantes; Pinochet, o facínora chileno, 24; a ditadura brasileira, 0,3.
O Coma Andante é 435,86 vezes mais assassino do que a ditadura brasileira, que encheu de metáforas humanistas a conta bancária de Chico Buarque. A história dirá quem foi Fidel? Já disse! Permaneceu 49 anos no poder; no período, passaram pela Casa Branca, lá no "Império" detestado por Niemeyer, dez presidentes!
Atenção: 78 mil pessoas morreram afogadas tentando fugir de Cuba. Sair de lá, como sabem, era e é proibido. Assim, o regime de Fidel matou 95 mil pessoas — o que torna o tirano 2.700 vezes mais assassino do que a ditadura brasileira.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Alexandre Soares Silva

Alexandre Soares Silva é o melhor blogueiro brasileiro. Junto com Diogo Mainardi, Soares Silva é a pessoa que mais entende de literatura inglesa no Brasil. João Pereira Coutinho lembra muito o estilo do Alexandre Soares Silva.
Alexandre é brilhante escrevendo tanto sobre literatura quanto sobre politica. De tudo o que foi publicado sobre a eleição de Obama, paradoxalmente, o melhor texto foi escrito em 2003 por Soares Silva. O texto trata do antiamericanismo difuso na sociedade. Segue abaixo o texto.
Alexandre Soares Silva
Antiamericanismo
O antiamericanismo é o antisemitismo moderno. As pessoas vêem filmes de nazistas e acham aquilo absurdo, como se não fossem capazes de sentir a mesma coisa. Mas são. Simplesmente aprenderam que o antisemitismo é feio, e escolheram outro povo pra odiar.
Não é político. Eles podem dizer que odeiam Washington, não o povo americano; mas na mente e nos jornais deles Bush virou uma caricatura tão vil quanto a que os nazistas faziam dos judeus. E toda a imagem que fazem dos americanos - gordura, hambúrguer, serial killers - é racista. E o jeito com que pessoas (que se consideram boas) comemoraram a kristallmorgen de 11 de setembro! Prevejo Daschaus contra americanos – celebradas por franceses em livros que serão resenhados favoravelmente pela Caros Amigos e pela Folha também, e pela TV Cultura. E a capa da Veja será, Eles Fizeram Por Merecer. Ou talvez A Fúria Justa.
A diferença, dizem eles, é que os judeus foram vítimas inocentes, os americanos são culpados vis. Como se os nazistas não se achassem vítimas da opressão judaica. Era exatamente assim que se achavam: vítimas da opressão judaica. Não há diferença entre o ódio de Eichmann e o ódio de José Arbex. Havia uma suposta opressão cultural - o intelectualismo judeu antes, o infantilismo americano agora - e uma suposta opressão político financeira - os marionetes judaicos em Washington antes, e os marionetes americanos em Israel agora. As duas expressões antisemitas em itálico são de Goebbels e Hitler. As duas expressões antiamericanas em itálico estão nos jornais todos os dias.
Olhem, a romancista Margaret Drabble escreveu isto num
jornal:
"My anti-Americanism has become almost uncontrollable. It has possessed me, like a disease. It rises up in my throat like acid reflux, that fashionable American sickness. (…)There, I have said it. I have tried to control my anti-Americanism, remembering the many Americans that I know and respect, but I can't keep it down any longer. I detest Disneyfication, I detest Coca-Cola, I detest burgers, I detest sentimental and violent Hollywood movies that tell lies about history. I detest American imperialism, American infantilism, and American triumphalism about victories it didn't even win."
Agora substituam antiamericanismo por antisemitismo, americanos por judeus. Fica mais ou menos assim:
“Meu antisemitismo se tornou quase incontrolável. Ele tomou conta de mim, como uma doença. Ele sobe na minha garganta como refluxo gástrico, essa doença judaica da moda. Pronto, eu disse. Tentei controlar meu antisemitismo, lembrando de vários judeus que eu conheço e respeito, mas não consigo me controlar mais. Detesto todo tipo de talmudização da cultura, detesto bagels, detesto falafels, detesto a arte degenerada dos pintores judeus, que mentem sobre a natureza humana. Detesto o cartel judaico, a esperteza judaica, e a alegria dos judeus a respeito de um domínio político-financeiro na Europa, quando na verdade esse domínio pode muito bem ser revertido se agirmos a tempo.”
Tudo o que fiz foi trocar um povo pelo outro, um clichê pelo outro, e uma paranóia pela outra. Se a segunda versão parece muito mais horrível do que a primeira, é porque agora é ok odiar os americanos, está liberado. Não era assim que os alemães se sentiam em relação aos judeus?
Realmente acho que se algum dia houver uma juventude hitlerista (claro, com outro nome) no Brasil, contra os americanos, ela vai buscar membros através da MTV e da revista Trip. Raspe a canela e o tênis de um jovem numa passeata, e verá que é um trompe-l´oeil pintado sobre botas.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Obama


Será mesmo que eu vou ter que escrever sobre a vitória do Obama? Não existe assunto que me dê mais preguiça! Não consigo entender que pessoas de outros países comemorem tanto a vitória de um presidente americano.
Hoje na Universidade, parecia que a seleção italiana tinha vencido a copa. Todos lendo os jornais em busca de mais uma frase do grande orador, do homem que mudará o mundo. Essa minha preguiça não tem nada a ver com o fato de ter escrito que McCain seria eleito[Fogo de Palha]. Os americanos preferiram um patife, pior pra eles. A verdade é que tenho preguiça de ilusões. Já não acredito mais em Papai Noel, fada madrinha, Sasa Mutema e muito menos em salvadores da pátria.
Amanhã o mundo continuará o mesmo. Talvez um pouco melhor, talvez um pouco pior. Tendo a achar que um pouco melhor. O governo de Barack Obama representará o fim de ilusões. Assim como nós, brasileiros, ficamos um pouco mais maduros politicamente, com a presidência do Primata Presidencial , os americanos também ficarão. Obama é simplesmente um Lula graduado em Harvad.
Um usou a condição social como escudo à criticas, e o outro a questão racial. Qualquer pergunta era vista como preconceito. Mas ao contrário do nosso que foi financiado a vida inteira por um partido, Obama teve sua carreira acadêmica financiada por Khalid al-Mansur. al-Mansur representa os interesses do príncipe saudita Alwaleed, nos Estados Unidos. Alwalled se tornou famoso quando teve a sua doação de dez milhões de dólares, à cidade de Nova York, recusada pelo ex-prefeito Rudolph Giuliani. Na época, Giulian alegou que não poderia aceitar a doação de alguém que tinha afirmado que o 11/09 era apenas uma resposta às políticas americanas pró-Israel.
A relação entre Obama e al-Mansur já seria suficiente para não se votar em Obama. Eu pouco me importo se ele é negro, mameluco, branco, amarelo. O que me preocupa é que as pessoas simplesmente deixaram de prestar atenção aos fatos. Ficaram abobadas, anestesiadas. E a realidade é que Obama nunca se preocupou em responder as dúvidas que pairam sobre o seu passado. O advogado Philip Berg, entrou na justiça para que Obama mostrasse a sua certidão de nascimento. Existe uma forte suspeita de que Obama, não tenha nascido nos Estados Unidos, o que o tornaria inelegível. Obama ao invés de acabar logo com a discussão e mostrar a porcaria do documento preferiu recorrer a artimanhas jurídicas. Eu tenho a ligeira impressão que dá muito menos trabalho contratar um despachante que um advogado.
Apesar disso tudo, acho que essa eleição serviu para uma coisa. Ficou claro que Arnaldo Jabor já deu o que tinha que dar. Tenho dois livros de Jabor, gosto de seus filmes e durante muito tempo o tive como um grande analista . Mas acho que ele cansou de escrever, de pensar. O seu artigo de ontem no Estadão é deprimente, patético. Não consigo acreditar, que a mesma pessoa que escreve isso: " a perua careta e despreparada Sarah Palin, que seria a 'boceta de Pandora' final para o mundo, a mulher de onde sairiam todos os males. McCain é prosa e Obama é poesia" possa ter escrito uma das melhores resenhas do livro Os Deuses de Hoje do Bruno Tolentino. Caro Jabor, volte a filmar.
O espírito dessa campanha pode ser resumido pelo vídeo que vai abaixo.

Mudanças na América. Só nos resta saber quais serão.

Há 50 anos os EUA segregavam legalmente os negros, e hoje eles elegeram, com grande diferença de votos, um presidente afro-descendente. A vitória de Obama mostrou a insatisfação do país com a política atual e o quanto eles clamam por mudança. Ao contrário do que muitos imaginavam (por exemplo, João Pereira Coutinho em post logo abaixo) os EUA derrubaram a teoria de que nas urnas o real espírito americano é racista. Uma vitória que ficará para história, não só por ser um candidato negro, mas pela conquista do partido democrata em estados de tradição republicana.
O que me pergunto agora é como será esse novo governo. Durante a campanha os veículos do mundo inteiro (exceto de Israel) foram claros em sua campanha a favor de Obama. Meses atrás, não me lembro ao certo quantos, a revista Piauí divulgou uma matéria com o perfil do democrata que descrevia um herói. Um homem, que superou uma origem difícil, foi o primeiro negro a presidir a publicação jurídica em Harvard e que agora buscava o cargo de maior importância na política mundial. Grande parte da mídia (televisiva e impressa) brasileira idealizou o candidato Barack Obama. O espaço destinado ao candidato democrata era vezes maior se comparado as matérias relacionadas a John McCain. Confesso que também fui contaminada por este espírito. Depois de tanto ouvir falar no brilhantismo de Obama passei a acreditar na imagem diplomática do candidato.
Para o Brasil resta saber até que ponto o caráter democrático e negociador de Obama trará bons resultados ao país. O presidente Lula foi claro ao mostrar sua preferência democrata, “Da mesma forma como o Brasil elegeu um metalúrgico e a Bolívia elegeu um índio, seria um avanço cultural a vitória de um negro na maior economia do mundo". Eu só espero que Obama não siga a mesma trajetória dos candidatos citados pelo nosso presidente.
Opiniões se dividem a respeito de qual candidato seria melhor para o Brasil. Na prática, McCain traria resultados mais rápidos já que é um defensor do livre comércio, ao contrário de Obama que é contra medidas que prejudicariam, por exemplo, a entrada do nosso etanol nos EUA.
A grande esperança mundial inclusive brasileira, é que Obama, como um político democrático e mais aberto ao diálogo, possa reatar laços diplomáticos com o mundo. Transformar a figura autoritária dos EUA e do governo Bush em um país mais aberto. Paris fez campanha “Goodbye George”. O que a comunidade européia espera agora é que o país seja um aliado mais próximo na luta contra novos desafios, que não são poucos, começando pela situação atual dos EUA.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Bruno Tolentino

O que vai abaixo é um trecho do apêndice do livro "A Balada do Cárcere" de Bruno Tolentino. Como escreveu Bandeira,"Uns tomam éter, outros cocaína./Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria". Eu ao contrario tomo Tolentino.

" A vida é cruel. Manuel e Noel, Drummond e Caymmi, não deveriam nunca envelhecer. Mas o fato è que guardamos nossas jóias e nossas cartas de amor com o mesmo deslumbramento, mas em estojos separados; e quando os vamos abrir, no primeiro deles achamos exatamente o mesmo valor, o mesmo brilho, realçado pela patina do tempo; mas no outro encontramos a tinta esmaecida, o papel amarelado, em suma, a palidez desbotada daquilo que tanto amávamos,que um dia nos resumiu e que de repente se tornou quase irreconhecível, quase ilegível, doce apenas como a vaga lembrança da emoção de um tempo que se foi como um assovio na noite ..."
Bruno Tolentino

domingo, 2 de novembro de 2008

terça-feira, 28 de outubro de 2008

acda en de munnik

Aproveitando o clima musical do blog. Gostaria de postar um música de uma banda holandesa que se chama Acda en de Munnik. A banda já existe desde 1997 e possui 12 discos.
A música deste vídeo de chama "Niet of nooit geweest", o que em português quer dizer algo como eu estive ou não estive. A letra da música se refere aos desencontros entre as pessoas.
Indico esse grupo não tanto pela qualidade poética de suas composições, mas pelo o que eles representam hoje dentro da Holanda e pelo ritmo de suas melodias.

Danielle Queiroz



Danielle Queiroz

Franco Battiato

Publicarei, sempre que possível, vídeos que mostrem cantores italianos contemporâneos pouco conhecidos no Brasil. Esta semana é Franco Battiato . Na minha opinião, é o maior cantor italiano contemporâneo e um dos grandes artistas mundiais.
Acho que Battiato representa na Itália o mesmo que Caetano no Brasil. Tentei escolher uma única musica mas não consegui. Por isso publico dois vídeos de Battiato .
Battiato representa a Itália que amo e aprendi a amar; longe da Itália da intolerância e do fascismo berslusconiano.

Espero que gostem.



segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Aeciopimentelmarciolulaserrakassabmartagabeirapaespt


Pode-se dizer que Aécio Neves saiu mais enfraquecido na campanha vitoriosa de Márcio Lacerda (Lacerda terminou com 59,12% dos votos, enquanto Quintão ficou com 48,88%) para o cargo de prefeito de Belo Horizonte. Simples. A vitória esperada por Aécio era já no primeiro turno. Isso todos nós sabemos. Quem não sabe disso não conhece o que se passa no cenário político brasileiro ,ou, está de inteira gozação.
Outro que perdeu com isso – e olhe, poderia ter perdido mais...muito mais- foi o atual prefeito, Fernando Pimentel. Ele que está contando os dias para entregar a prefeitura para Lacerda, deve ter rezado muito para sei lá qual santo pedindo a vitória do socialista.
Por que os dois perderam? Essa tese que o político com excelente aprovação junto a população poderia se quiser eleger um poste, caiu de joelhos. Assim tanto Pimentel quanto Aécio sofreram muitos arranhões em seus respectivos joelhos. E o Lula então...melhor nem falar!
José Serra está muito confortável com a vitoria do seu ex-vice-prefeito, Gilberto Kassab (60,72%). O clima lá em São Paulo está colorido -leitor não ache que eu estou induzindo algo ao “colorido”, não sou pilantra como os petistas foram na campanha da Marta Suplicy (39,28%)- , os tucanos estão satisfeitos com os democratas e vice-versa. No Rio, o pessoal preferiu curtir o feriado de última hora a votar. 20,25% foi o número de abstenções nessa cidade. Depois companheiros cariocas não reclamem. Eduardo Paes (PMDB) 50.83% a Gabeira (PV) 49.17%.
Dúvida: existe PT em Minas? Onde? No Lixão? No João XXIII?Ah, sim... no cemitério! Mas qual?
Fábio Saldanha

domingo, 26 de outubro de 2008

Laços

Sempre tive um enorme preconceito à novas tecnologias. Sou relutante em aceitar a mistura entre arte e tecnologia. Demorei muito tempo para começar a usar Internet . Sou um cristão novo de msn, por exemplo.
Nunca tive muita paciência com nada que fosse ligado à Internet - tecnologia essas coisas . Achava que YouTube era uma perda de tempo. Quando me contavam de vídeos feitos para o YouTube tinha náuseas.
Até que vi o vídeo que vai abaixo. Laços é um curta metragem com roteiro de Adriana Falcão e atuação de Clarice Falcão . Foi o vencedor de um concurso mundial de curta-metragens realizado pelo google.


sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Mino Carta

Alguém ainda lê Carta Capital? Pensava que além dos estudantes de jornalismo e dos leitores de segundo caderno ninguém mais dava bola para a revista do gourmet - disfarçado de jornalista - Mino Carta. Estava enganado.
Roberto Requião - o nosso Bolanõs - declarou que lê apenas Carta Capital. De acordo com o humorista involuntário Carta Capital é a única revista verdadeiramente independente, que não fica mudando de anunciante. Requião está coberto de razão. Carta Capital possui um único anunciante - o Governo Federal. A relação entre a revista e o Governo Federal é tão esdrúxula que chega ao cúmulo de filiados do PT obterem descontos na assinatura da revista. Isso mesmo! Filiados do Partido do Trambique ganham 50% de desconto na assinatura do semanário. Isso sim é independência!
Abaixo uma foto de Mino Carta com o seu anunciante, ou melhor, financiador. Financiador como se sabe, deve ser tratado a pão-de-ló.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O ator e o dublê

"É curioso, mas nossa cultura política atual tende a repudiar o acirramento dos embates eleitorais, como se quem o propusesse cometesse um pecado", escreveu [15/10] o diretor do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, em artigo publicado pelo jornal Estado de Minas. "Espera-se dos candidatos uma espécie de falsa cordialidade, o tal debate em alto nível". Concordo com Coimbra. Apesar de ele ter aquele jeito songa-monga de falar, Coimbra foi feliz em evidenciar essa prática que é totalmente natural em disputas políticas. Se não, vejamos: numa das democracias mais sólidas do mundo, a americana [lógico], embates em eleições são feitos sem a desculpa esfarrapada de serem taxadas como de baixo nível. Sarah Pallin diz que Obama é amigo de terrorista. Se isso é verdade ou não, ou se é certo ou não, fica a cargo do eleitor. E se a pessoa se sentir ofendida [nesse caso Obama], que procure ela o caminho legal – a lei.

Estou enrolando, mas foi por uma boa causa. Ontem à noite aconteceu mais um debate entre os candidatos à prefeitura de Belo Horizonte na TV Alterosa. Este já deve ter sido o debate de número... Sei lá eu.

Já na porta via-se uma movimentação de torcidas organizadas [leia-se: pessoas pagas para torcer] de ambos os candidatos. Ah! Devo dizer que a minha presença no debate surgiu de um convite que a própria emissora fez aos alunos de jornalismo de todas as faculdades de BH. A entrada no local onde houve a transmissão do debate foi muito tumultuada. Estudante sofre! Enfim, depois de esperar mais de trinta minutos sob forte calor humano, consegui sentar em meu lugar na platéia. Antes de começar, um funcionário da casa pediu que o público não se manifestasse em momento algum, pois poderiam ser convidados a se retirar com a ajuda singela dos seguranças.

O debate começou com uma pergunta sobre esporte. Nada demais. Depois, outra pergunta sobre o metrô. Até então os dois candidatos ficaram em seus púlpitos respondendo às perguntas dos jornalistas convidados. Na segunda pergunta, feita pelo editor de política do Estado de Minas, Baptista Chagas de Almeida, uma surpresa: Leonardo Quintão tirou o microfone do suporte e saiu do seu lugar para ficar andando de um lado para o outro. Márcio Lacerda ficou parado – piscando sem parar. Ele não aproveitou o momento para mostrar que também estava à vontade como Quintão.

Não demorou muito para que o clima começasse a mudar no debate. Com uma pergunta sobre o envolvimento de Márcio Lacerda no caso do mensalão, Quintão abriu o segundo bloco. Lacerda enfim saiu de sua posição de poste. Pegou o microfone sem fio e movimentou-se com pouca desenvoltura, lembrando uma imitação de Sinatra. Ao invés de cantar, ele procurou defender-se das acusações do seu oponente. Quintão adotou um tom de voz ríspido todas as vezes em que respondeu a Lacerda. O peemedebista usava de sua retórica política para responder e devolver as perguntas a Márcio. Em uma destas, Quintão, interpelou-o com a seguinte indagação: "O senhor candidato, se considera de centro-esquerda ou de direita?" Lacerda disse que era de centro esquerda. Aí a coisa desandou. Ainda nesse tema, o socialista falou que direita era o DEM [de Gustavo Valadares, filho do ZIZA]. Quintão argumentou que a candidatura de Márcio tinha o apoio do democrata Gustavo Valadares, e por isso ele não poderia se dizer de centro-esquerda. Márcio se enrolou e piscou mais ainda. Disse que os Democratas estavam livres para apoiar quem eles quisessem assim que terminasse a votação do primeiro turno. Valadares, segundo Lacerda, o procurou para dar seu apoio. Até aí tudo bem, mas quando Lacerda foi tocar no assunto de sua aliança com o PT de Fernando Pimentel, não foi nada feliz. Partindo do pressuposto de que Pimentel é centro-esquerdista, Lacerda derrapou ao desqualificar uma parcela que ele classificou como facções radicais do PT mineiro. Quintão não pensou duas vezes ao fazer sua réplica; lembrou que no PT mineiro ele tinha conhecido muita gente boa, no tempo das eleições de 2006. Falou muito em nomes como Patrus Ananias, Luiz Dulci e Lula. Disse que boa parte do PT está com ele por não aceitar as imposições "autoritárias" de Pimentel. Essa doeu até em mim.

No início do terceiro bloco, Márcio não reparou que o assistente de palco colocou um banquinho ao seu lado. Foi até alertado pelo apresentador/mediador sobre a novidade. Um momento em que até eu não consegui me segurar e caí na gargalhada. Depois disso, Márcio respondeu rápido a uma pergunta sem muita relevância de Quintão, e aproveitou o tempo que lhe restava para falar e se defender mais sobre o mensalão. Disse que Quintão estava usando esse tema porque estava desesperado. Ratificou que nunca teve o nome sequer relatado nos autos do processo. E atacou logo em seguida. Disse que era melhor o outro candidato se preocupar com as fraudes em Ipatinga, onde seu pai, Sebastião Quintão, foi prefeito. Quintão ficou muito incomodado com a fala do adversário. Realmente, processo não é um assunto agradável para os dois.

Enquanto a troca de acusações comia solta, as regras para a platéia foram quebradas. Me senti em pleno Mineirão em dia de Atlético e Cruzeiro. Eram vaias para lá, vaias para cá, uma bagunça. O mediador até pediu que fossem cumpridas as regras, mas não adiantou muito. Em uma das cadeiras acima de onde eu estava, tinha uma trinca de meninas de uma faculdade suspeita [aqui vai o auge de minha polidez]. Não paravam de falar em momento algum! Colegas de curso [e de blog] que sentaram na mesma fileira que eu, não estavam mais agüentando tanta sandices pronunciadas pelo trio. Era um "Quintão você é lindo", "Ai! Minha mãe também gosta de você" entre outros absurdos. A cereja do bolo eram as ligações que uma das moças fazia para a mãe, em casa, durante os intervalos, para saber se ela havia aparecido em cada bloco do programa. Um outro companheiro de blog, que acompanhou o debate pela TV, disse que não ouviu muitos sons vindos da platéia. Só vira uma mulher que toda vez que era focalizada no enquadramento do apresentador aparecia um pouco sonolenta.

No último bloco antes das considerações finais, Quintão começou com tudo para cima de Lacerda. O tema era acessibilidade. Numa outra pergunta, Lacerda dissera que Quintão votou contra um projeto de lei que melhoraria a vida de pessoas com deficiência física, e que por isso não era uma pessoa solidária. Quintão devolveu a pergunta com um sorriso irônico, e falou que o candidato não sabia nada do que estava falando, pois nunca foi um parlamentar. E que o que aconteceu na verdade não passava nem perto “do real”. Fiquei sem entender!

Quintão abordou o tema das campanhas clandestinas. Agora é a vez de Márcio fazer uso da pergunta de Quintão; este havia perguntado àquele sobre a campanha clandestina de que vinha sendo vítima, e indagado se o adversário aprovava estas táticas. Lacerda disse que também sofre com campanhas clandestinas, mas ponderou que ele está processando o seu adversário na justiça por esse tipo de atitude. E mandou um recado junto em meio a resposta: alertou Quintão para que, caso ele se sinta prejudicado, que utilize também os meios legais. Aplausos. A trinca feminina às minhas costas não aprovou a fala de Lacerda.

Ao passo que outras perguntas foram surgindo e sendo respondidas, o último bloco terminava com saldo positivo. Não aceito a pecha de baixo nível dada pela maioria da imprensa para o debate. Não. Foi um momento onde se discutiu tudo o que o eleitorado deve saber, entre propostas de governo e a vida pregressa de cada candidato. Debate "de alto nível" é uma completa falácia; um eufemismo para conchavo entre comadres que não se gostam.

Considerações finais. Márcio Lacerda: "Não sou melhor ator que o outro candidato, mas sou melhor administrador”. Quintão devolve: "O Candidato disse que eu sou melhor ator, então ele é melhor dublê". Fui embora preocupado em como chegar em casa. Ônibus de madrugada é quase uma visão de outro mundo. Fui de táxi.

PS: Nesta sexta teremos o último debate, de número sei-lá-eu, antes do pleito no Domingo. Na Rede Globo. Sem platéia, e sem a trinca.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Do blog do Reinaldo Azevedo



O que vai acima é trecho do debate da Band, na semana passada, entre Márcio Lacerda (PSB) — o candidato de Aécio Neves, Fernando Pimentel e Ciro Gomes à Prefeitura de Belo Horizonte — e o peemedebista Leonardo Quintão. Dado o título do vídeo, parece ter sido postado por algum simpatizante de Lacerda. Se for, trata-se de alguém que não está entendendo direito o que está em curso. Não sei como foi o debate de ontem.

Na semana passada, achando que estava tendo uma grande sacada, Lacerda pergunta se o adversário acreditava nas acusações de Jô Moraes, candidata do PC do B derrotada no primeiro turno e agora apoiando Quintão. Jô acusava Lacerda de envolvimento com o mensalão. A resposta do peemedebista é uma espécie de emblema do “mineirin isperto” e de sua ascensão nas pesquisas.

Quintão diz o seguinte, nessa ordem:
- “Tenho muito respeito pelo senhor” (moço educado);
- “O Sr. tem idade para ser meu pai” (faz o eleitor comparar a sua aparência de galã de quermesse com a figura do outro, vetusta e cinzenta, de cara sempre fechada);
- “Quem tem de acreditar ou não é o eleitor, não sou eu” (bem no fígado);
- “Eu, pessoalmente, respeito o senhor. Não sei da vida do senhor porque eu não o conhecia (aqui, chama a atenção para o fato óbvio de que quase ninguém, em Belo Horizonte conhecia Lacerda, candidato inventado por Aécio e Pimentel).

Mais: notem o acento, digamos, “acariocado” de Lacerda em contraste com o sotaque “mineirin” de Quintão. No interior, quando a gente vê um falso sonso, a gente diz: “Esse, de bobo só tem o andado”. Nós, os caipiras, alimentamos a lenda de que somos mais espertos do que os “almofadinha da cidade grande”, sabem cumé? É claro que se trata de uma lenda reativa, autodefensiva, mas convém não dar mole...

Permito-me um pequeno vôo, sem ambição teórica, mas com alguma história. Há todo um subgênero na chamada “música caipira” (nada a ver com esses breganejos) que trata desse confronto entre o dotô e o matuto — que sempre se dá bem no fim. Tião Carreiro e Pardinho, a dupla que se tornou referência da boa música de viola, explorou muito o tema. Leia, se quiser entender direito do que falo, a letra de Rei do Gado (dá até para ouvir a canção). Trata de um país que ainda tinha a maior parte da população no campo — e não do Brasil contemporâneo, com 80% na cidade — muito acima dos países europeus, por exemplo —, o que é um problema, não uma solução. Mas esse é assunto para outra hora. De volta.

Quintão, eu sei, é o falso matuto. Vem de uma família de políticos experimentados, estudou no exterior, é cobra criada. Eu ousaria dizer que aquele seu sotaque é coisa de mineiro imitando mineiro... Acontece que a eleição em Belo Horizonte se transformou num jogo de personalidades construídas — e ele só aproveitou a janela de oportunidades que lhe foi aberta por Aécio Neves e Fernando Pimentel. A dupla pode assistir ao insucesso de sua criação bastante original: o coronelismo urbano: “É pra votar neste aqui”. Sim, mas quem é esse? “Não importa, a gente tá mandando”. Há o risco de Aécio ver a tal “aliança inédita” ir para o brejo e de Pimentel entregar ao PMDB 16 anos de administração petista. Por que falo em jogo de aparências? Porque Lacerda foi apresentado como a solução técnica, “o” administrador que, vá lá, deveria apenas ser homologado por uma disputa eleitoral. Não funcionou. Muita gente diz: "Quintão é a pior solução para Belo Horizonte". É? Que chance Aécio e Pimentel deram à população de escolher a melhor?

O vídeo acima demonstra que Lacerda até pode ser o “ó do borogodó” em administração, mas é ruim de política pra chuchu. Imaginar que o adversário vai lhe passar um atestado de boa conduta expõe a sua principal ingenuidade: achar que o oponente é tonto. E, como se vê, de tonto não tem nem o sotaque, também ele peça de marketing.

Não conheço em detalhes a administração de Belo Horizonte e as reais potencialidades de Lacerda e Quintão. É até possível que a solução de continuidade seja a preferível para a cidade. Mas, se não acontecer, a culpa é de Aécio e Pimentel. Os dois, sozinhos, acharam que podiam substituir o povo. E o povo erra e acerta, mas não tem substituto. Ou tem: ditadura. Uma péssima substituição.

E notem. A eleição em Belo Horizonte tem sido tão surpreendente, que pode dar qualquer coisa por lá, inclusive a virada de Lacerda. Vejam que curioso: só há essa trajetória de solavancos porque há algo de profundamente antinatural na disputa — considerando que a naturalidade é a democracia, que compreende a construção de candidaturas ao longo do tempo — jamais paridos no bolso do colete.

Mesmo que o ungido pelos caciques vire o jogo, a lição está dada: ninguém deve votar em lugar do povo.

Hoje terá mais um debate entre os canditados à prefeitura de Belo Horizonte na tv Alterosa (22:30H). Estarei lá para fazer a cobertura para o blog. Volto amanhã com o que aconteceu nesse debate. Fábio Saldanha