quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Lula e Berlusconi

O texto abaixo foi escrito por Diogo Mainardi em 2003.


O nosso Berlusconi
Diogo Mainardi

Lula é igual a Silvio Berlusconi, o primeiro-ministro da Itália. É o Berlusconi da esquerda. Berlusconi assumiu o poder dois anos atrás com a promessa de reativar a economia italiana. Como nesse período a economia italiana ficou estagnada, crescendo ainda menos que a média européia, Berlusconi dobrou a aposta e passou a prometer que em breve o governo dará início a uma mítica fase dois. Lula adotou a linguagem berlusconiana e também prometeu dar início à fase dois. Essa fase dois, segundo o governo brasileiro, é um ciclo de desenvolvimento que irá gerar um crescimento de 4% do PIB. Berlusconi ganhou as eleições prometendo crescimento de 4% do PIB.
Berlusconi, como Lula, não gosta de ser interrogado pela imprensa. Prefere discursar para platéias de adoradores, indo de um lado para o outro do palco, com o microfone na mão, aplaudido pela claque, como um animador de auditório. Berlusconi não tem grande educação formal, mas seus escorregões gramaticais servem para tirar a pompa e aumentar a identificação do público. Em todas as ocasiões, Berlusconi conta a fábula de sua ascensão social. De origem humilde, tornou-se o homem mais rico da Itália, uma versão capitalista de Lula, o retirante nordestino que saiu do pau-de-arara para o Palácio do Planalto. O pensamento de Berlusconi só admite parábolas futebolísticas. Ao tratar de economia, da reforma previdenciária ou do Afeganistão, ele sempre cita o Milan, da mesma forma que Lula sempre cita o Corinthians. A diferença é que Berlusconi é dono do Milan, enquanto Lula não passa de um torcedor do Corinthians. É a diferença que há, atualmente, entre direita e esquerda.
Berlusconi acha que tudo pode ser resolvido com uma boa conversa. Os jantares em sua casa são mais importantes que as reuniões no Parlamento, mais ou menos como os churrascos de Lula. Berlusconi acha também que seu prestígio internacional pode levar a uma rápida solução dos maiores problemas da humanidade. Ele já se atribuiu o mérito de ter evitado uma crise nuclear entre Estados Unidos e Rússia, e, outro dia mesmo, em Israel, apresentou uma receita milagrosa para acabar o conflito no Oriente Médio. Lula é igual. Chegou à reunião do G-8 e logo tirou da cartola uma solução muito simples para a fome no mundo. Os países desenvolvidos ignoraram a proposta, mas nossos chargistas perceberam seu alcance histórico. Chico Caruso, na TV, mostrou Lula marcando um gol de letra contra a fome. Berlusconi e Lula contam com o apoio irrestrito da TV. Berlusconi é dono da TV italiana. Lula não é dono de nada, mas conhece o segredo do cofre para salvar os empresários do setor.
Outras analogias entre Berlusconi e Lula: ambos reclamam dos juros, ambos culpam os governos anteriores por seus fracassos, ambos concederam anistias fiscais para cobrir o rombo estatal, ambos pressionam o FMI para tirar os investimentos em infra-estrutura do cálculo do déficit, ambos prometem criar empregos através de incentivos à produção. Pouco a pouco, os italianos estão se desencantando com Berlusconi, como demonstraram as eleições da semana passada. O populismo berlusconiano começa a perder o fascínio dois anos depois de conquistar o governo. Lula ainda chega lá.

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