domingo, 19 de outubro de 2008

Velhos preconceitos

A liberdade de criação do mundo contemporâneo às vezes me impressiona. Já é algo dito e conhecido que conceituar alguma produção artística atualmente é uma tarefa difícil. Unir dentro de um mesmo produto pensamentos e vertentes totalmente distintos até opostos é o mais comum entre artistas contemporâneos.
Neste contexto, fui pesquisar sobre a comédia stand-up. Gênero criado e consagrado nos EUA começa a ganhar espaço nos palcos brasileiros. Belo Horizonte possui um único grupo destinado a este gênero.
Ao pensar em comédia stand-up gostaria de ligar este estilo humorístico a improvisação teatral. Mostrar as semelhanças e diferenças entre dois gêneros que para muitos podem parecer a mesma coisa.
A comédia stand-up ou comédia de pé assemelha-se a um bate papo, onde o “ator”, que necessariamente não passou por escolas de teatro, aborda temas cotidianos. O humorista não faz uso de figurino, maquiagem ou qualquer recurso cenográfico. A naturalidade da comédia de pé nos passa uma idéia de improviso. Entretanto não é bem assim que acontece. O ator deste gênero utiliza de um pré-roteiro que guia seu show. O improviso existe no stand-up, porém não se desenvolve a partir dele.
Primeiramente conversei com um grupo argentino de improvisação. Ao ser perguntado sobre a relação entre os dois gêneros, o diretor do grupo deixou bem claro que a comédia stand-up era algo muito distinto da improvisação teatral. Saí da conversa acreditando ser impossível estabelecer uma ponte entre os dois assuntos.
Fui buscar outras fontes. Conversei com o grupo de comédia stand-up de BH e Walmir Ferreira que é professor de teatro.
Após todas as entrevistas percebi certo preconceito do meio artístico (“acadêmico”) em relação aos humoristas adeptos da comédia de pé. O que atrapalha o desenvolvimento e consagração do estilo.
Improvisar dentro do teatro é criar, “não há interpretação sem improvisação”. É o velho preconceito das academias em classificar o produto deles como superior ao popular.
A mesma situação se repete em outras manifestações artísticas como, por exemplo, o grafite. Neste caso muita coisa já mudou. A Bienal Internacional de Grafite mostrou isso. Já há uma movimentação forte para tornar o grafite uma forma de arte contemporânea.
Neste mundo nutrido pela diversidade, nos consideramos uma geração aberta ao novo. Porém, o que acontece na prática é que ainda cultivamos valores conservadores relacionados a coisas simples. Conceitos que tornam-se uma barreira para a criação artística.