Lula na Itália? Onde você viu isso? Claro, claro, a Ilze Scamaparini te contou. Mas, como eu não posso ver os belos casacos da Ilze não fiquei sabendo que o guia genial está por aqui. Eu entendo que ela faça a cobertura da visita do Lula. Como se sabe, não é todo dia que um Papa morre, e não quero que o Ali Kamel perceba que a Itália não é assim tão relevante. Fui procurar algo na imprensa italiana sobre a visita e nada encontrei. Mas como "sou brasileiro e não desisto nunca" continuei procurando. Pensei: como é que pode a imprensa italiana não noticiar nada da visita do chefe de estado do gigante latino-americano, do homem que foi o inicio de tudo, o homem que possibilitou que Obama fosse eleito? Não, não é possível, deve ter sido publicado algo sobre a visita do nosso guia genial. E não é que achei?! Estava lá, no cantinho do site do Corriere della Sera. Lula sendo recebido por Berslusconi junto aos brasileiros do Milan. Empolgado fui ver do que se tratava. Entretanto, para a minha decepção, não tinha nada escrito. Eram apenas fotos. http://www.corriere.it/gallery/Sport/vuoto.shtml?2008/11_Novembre/lula/1&1 A grande vantagem de morar fora è perceber o tamanho da nossa irrelevancia. Ninguém da bola para o Brasil. Não, não tenho complexo de vira lata. Não tenho recalque por ser brasileiro. Nunca me senti inferior por ser brasileiro. Não acho que exista tanta diferença entre aqui e aí. Como diria Bruno Tolentino "O ser humano é incorrigível, só que abaixo do equador se percebe mais facilmente". Só não me incomodo mais que o Brasil seja visto como o país do futebol, de mulheres fáceis, do Carnaval. Não vou perder meu tempo mostrando que temos Bruno Tolentino, Mário Faustino, Machado de Assis. Não preciso sair gritando que " Lavoura Arcaica " o livro e o filme são duas obras primas. Não me importo que Kill Bill seja mais comentado que Lavoura Arcaica, que Quentin Tarantino seja venerado. Kill Bill é um sinal dos tempos. Não obstante, somos irrelevantes, paradoxalmente, por bons motivos. O Brasil, e isso não é um cliché,è um dos poucos países em que os Povos do Livro convivem harmoniosamente. E isso não tem nada a ver com o homem cordial de Sérgio Buarque de Holanda. O que Sérgio Buarque denuncia é o nosso servilismo, a nossa falta de interesse por tudo aquilo que é perene, uma tentativa de sempre dessacralizar as coisas. Como mostra o pai do Chico, no período colonial as pessoas frequentavam a Igreja não para rezar mas para serem vistas - rezar não era algo espiritual mas apenas um compromisso social. Esse nosso desapego e desprezo pelas grandes questões é algo bastante positivo nas relações. É o relativismo suave de que fala João Pereira Coutinho, "O relativismo das coisas menores. Como um tempero que se coloca sobre o prato da vida, só para dar algum sabor mortal a tudo o que fazemos e sentimos. É o relativismo suave que ensina que nada tem uma importância tão absolutamente esmagadora quando o fim é certo e o esquecimento também". O nosso grande problema é que levamos esse relativismo suave para todos os campos. O mundo acadêmico brasileiro é isso. Não existe o confronto, o debate. A única discussão é sobre quem comeu quem. Podem fazer um teste: pesquisem sobre Bruno Tolentino. Não se discute a sua obra mas a sua biografia. Temos o prazer do conchavo. O PSDB por exemplo jamais fez uma prévia para escolher um candidato a presidente. Alckmin se tornou candidato durante um jantar ente FHC, Serra, Aécio e Tasso Jereissati. Aécio Neves por exemplo é o paladino dos conchavos. Segundo Aécio, a eleição de Márcio Lacerda é o exemplo que Minas tem a dar ao Brasil. Aécio, que como gosta de dizer é carioca, pode ficar com essa Minas Gerais. Minas para mim é Adélia Prado, Murilo Mendes e Drummond
terça-feira, 11 de novembro de 2008
A Não Noticia
Lula na Itália? Onde você viu isso? Claro, claro, a Ilze Scamaparini te contou. Mas, como eu não posso ver os belos casacos da Ilze não fiquei sabendo que o guia genial está por aqui. Eu entendo que ela faça a cobertura da visita do Lula. Como se sabe, não é todo dia que um Papa morre, e não quero que o Ali Kamel perceba que a Itália não é assim tão relevante. Fui procurar algo na imprensa italiana sobre a visita e nada encontrei. Mas como "sou brasileiro e não desisto nunca" continuei procurando. Pensei: como é que pode a imprensa italiana não noticiar nada da visita do chefe de estado do gigante latino-americano, do homem que foi o inicio de tudo, o homem que possibilitou que Obama fosse eleito? Não, não é possível, deve ter sido publicado algo sobre a visita do nosso guia genial. E não é que achei?! Estava lá, no cantinho do site do Corriere della Sera. Lula sendo recebido por Berslusconi junto aos brasileiros do Milan. Empolgado fui ver do que se tratava. Entretanto, para a minha decepção, não tinha nada escrito. Eram apenas fotos. http://www.corriere.it/gallery/Sport/vuoto.shtml?2008/11_Novembre/lula/1&1 A grande vantagem de morar fora è perceber o tamanho da nossa irrelevancia. Ninguém da bola para o Brasil. Não, não tenho complexo de vira lata. Não tenho recalque por ser brasileiro. Nunca me senti inferior por ser brasileiro. Não acho que exista tanta diferença entre aqui e aí. Como diria Bruno Tolentino "O ser humano é incorrigível, só que abaixo do equador se percebe mais facilmente". Só não me incomodo mais que o Brasil seja visto como o país do futebol, de mulheres fáceis, do Carnaval. Não vou perder meu tempo mostrando que temos Bruno Tolentino, Mário Faustino, Machado de Assis. Não preciso sair gritando que " Lavoura Arcaica " o livro e o filme são duas obras primas. Não me importo que Kill Bill seja mais comentado que Lavoura Arcaica, que Quentin Tarantino seja venerado. Kill Bill é um sinal dos tempos. Não obstante, somos irrelevantes, paradoxalmente, por bons motivos. O Brasil, e isso não é um cliché,è um dos poucos países em que os Povos do Livro convivem harmoniosamente. E isso não tem nada a ver com o homem cordial de Sérgio Buarque de Holanda. O que Sérgio Buarque denuncia é o nosso servilismo, a nossa falta de interesse por tudo aquilo que é perene, uma tentativa de sempre dessacralizar as coisas. Como mostra o pai do Chico, no período colonial as pessoas frequentavam a Igreja não para rezar mas para serem vistas - rezar não era algo espiritual mas apenas um compromisso social. Esse nosso desapego e desprezo pelas grandes questões é algo bastante positivo nas relações. É o relativismo suave de que fala João Pereira Coutinho, "O relativismo das coisas menores. Como um tempero que se coloca sobre o prato da vida, só para dar algum sabor mortal a tudo o que fazemos e sentimos. É o relativismo suave que ensina que nada tem uma importância tão absolutamente esmagadora quando o fim é certo e o esquecimento também". O nosso grande problema é que levamos esse relativismo suave para todos os campos. O mundo acadêmico brasileiro é isso. Não existe o confronto, o debate. A única discussão é sobre quem comeu quem. Podem fazer um teste: pesquisem sobre Bruno Tolentino. Não se discute a sua obra mas a sua biografia. Temos o prazer do conchavo. O PSDB por exemplo jamais fez uma prévia para escolher um candidato a presidente. Alckmin se tornou candidato durante um jantar ente FHC, Serra, Aécio e Tasso Jereissati. Aécio Neves por exemplo é o paladino dos conchavos. Segundo Aécio, a eleição de Márcio Lacerda é o exemplo que Minas tem a dar ao Brasil. Aécio, que como gosta de dizer é carioca, pode ficar com essa Minas Gerais. Minas para mim é Adélia Prado, Murilo Mendes e Drummond
Para Stefânia
Sou um obcecado pela passagem do tempo. Mais especificamente sobre os anos que perdemos - os anos que o gafanhoto comeu. Como diz Deus no Antigo Testamento "Eu vos recompensarei pelos anos que o gafanhoto comeu" .
Então, um feliz aniversário Stefânia!
Bruno Tolentino
Provavelmente porque o ser se intranqüiliza
de já não ser o que ia sendo; intensamente,
porque as fogueiras de um martírio impenitente
são seus triunfos, seus troféus cheios de cinza;
e finalmente porque tudo o que agoniza
quer promulgar, solenizar o impermanente,
o coração, naquele fundo ambivalente
da coisa humana, momentâneo como a brisa,
mas persuadido de que as músicas da mente
hão de reter do ser algo mais que uma soma,
o coração vive das sombras de um aroma.
Só muito raramente esse iludido sente
a força de acordar antes que a luz cadente
o deixe louco como à mosca na redoma.
Pedro Fonseca
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