terça-feira, 14 de outubro de 2008

Do blog cubano Generación

Na quinta-feira estreiou em toda a Ilha um filme sobre a guerra de Angola. Nos arredores dos cinemas os casais preferiram mudar o rumo e irem a lugares escuros, pois a campanha cubana na África lhes desperta pouco interêsse. O filme padece de um atraso de um par de décadas e aborda uma história que ainda tem partes secretas. Kangamba provocou grandes filas e apaixonados comentários nos finais dos oitenta; porem, nestas alturas, poucos querem rememorar o ocorrido.
A contenda cubana em terras angolanas foi a maior guerra da história de Cuba. Quinze longos anos pelejando em outro solo, matando ou deixando-se matar por gente que não sabia muito bem onde ficava esta Ilha. Eram os tempos em que o Kremlin projetava sua sombra sobre Cuba e dependíamos tanto dele que nossos líderes não duvidaram em somar-se à sua campanha contra a UNITA. A geopolítica planeja essas duras provas para os pequenos países que orbitam ao redor dos grandes impérios.
Noto que nestes tres lustros de conflito não aconteceu em nenhuma praça pública um protesto de mães cubanas para não enviar seus filhos à frente. Ninguem lançou nos meios de comunicação a pergunta que todos sussurávamos “Que fazemos em Angola?” e muito menos um movimento pacifista encheu de pombas brancas algum ponto de recrutamento. Éramos mais dóceis como cidadãos do que somos hoje, e nos levaram a perecer e a matar sem saber bem o que fazíamos.
Hoje estamos informados de cada baixa que sofre o exército norte americano no Iraque, porem recordo o secretismo sobre o numero de soldados cubanos caídos durante a guerra angolana. Nòs nos inteirávamos que o vizinho havia perdido um irmão ou que o colega de trabalho regressava sem uma perna, porem a imprensa só tocava a sinfonia da vitória. Os mortos eram chorados na privacidade das famílias que não entendiam muito bem o que faziam seus filhos no outro lado do Atlantico. Ficaram os nichos no cemitério, as fotos emolduradas nas salas das famílias, os vasos de flores repletos em cada aniversário e os longos discursos dos que haviam visto a guerra desde cedo, porem nada supõe responder com clareza a pergunta: Que faziam os cubanos em Angola ?

YOANI SÁNCHEZ