terça-feira, 28 de outubro de 2008

acda en de munnik

Aproveitando o clima musical do blog. Gostaria de postar um música de uma banda holandesa que se chama Acda en de Munnik. A banda já existe desde 1997 e possui 12 discos.
A música deste vídeo de chama "Niet of nooit geweest", o que em português quer dizer algo como eu estive ou não estive. A letra da música se refere aos desencontros entre as pessoas.
Indico esse grupo não tanto pela qualidade poética de suas composições, mas pelo o que eles representam hoje dentro da Holanda e pelo ritmo de suas melodias.

Danielle Queiroz



Danielle Queiroz

Franco Battiato

Publicarei, sempre que possível, vídeos que mostrem cantores italianos contemporâneos pouco conhecidos no Brasil. Esta semana é Franco Battiato . Na minha opinião, é o maior cantor italiano contemporâneo e um dos grandes artistas mundiais.
Acho que Battiato representa na Itália o mesmo que Caetano no Brasil. Tentei escolher uma única musica mas não consegui. Por isso publico dois vídeos de Battiato .
Battiato representa a Itália que amo e aprendi a amar; longe da Itália da intolerância e do fascismo berslusconiano.

Espero que gostem.



segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Aeciopimentelmarciolulaserrakassabmartagabeirapaespt


Pode-se dizer que Aécio Neves saiu mais enfraquecido na campanha vitoriosa de Márcio Lacerda (Lacerda terminou com 59,12% dos votos, enquanto Quintão ficou com 48,88%) para o cargo de prefeito de Belo Horizonte. Simples. A vitória esperada por Aécio era já no primeiro turno. Isso todos nós sabemos. Quem não sabe disso não conhece o que se passa no cenário político brasileiro ,ou, está de inteira gozação.
Outro que perdeu com isso – e olhe, poderia ter perdido mais...muito mais- foi o atual prefeito, Fernando Pimentel. Ele que está contando os dias para entregar a prefeitura para Lacerda, deve ter rezado muito para sei lá qual santo pedindo a vitória do socialista.
Por que os dois perderam? Essa tese que o político com excelente aprovação junto a população poderia se quiser eleger um poste, caiu de joelhos. Assim tanto Pimentel quanto Aécio sofreram muitos arranhões em seus respectivos joelhos. E o Lula então...melhor nem falar!
José Serra está muito confortável com a vitoria do seu ex-vice-prefeito, Gilberto Kassab (60,72%). O clima lá em São Paulo está colorido -leitor não ache que eu estou induzindo algo ao “colorido”, não sou pilantra como os petistas foram na campanha da Marta Suplicy (39,28%)- , os tucanos estão satisfeitos com os democratas e vice-versa. No Rio, o pessoal preferiu curtir o feriado de última hora a votar. 20,25% foi o número de abstenções nessa cidade. Depois companheiros cariocas não reclamem. Eduardo Paes (PMDB) 50.83% a Gabeira (PV) 49.17%.
Dúvida: existe PT em Minas? Onde? No Lixão? No João XXIII?Ah, sim... no cemitério! Mas qual?
Fábio Saldanha

domingo, 26 de outubro de 2008

Laços

Sempre tive um enorme preconceito à novas tecnologias. Sou relutante em aceitar a mistura entre arte e tecnologia. Demorei muito tempo para começar a usar Internet . Sou um cristão novo de msn, por exemplo.
Nunca tive muita paciência com nada que fosse ligado à Internet - tecnologia essas coisas . Achava que YouTube era uma perda de tempo. Quando me contavam de vídeos feitos para o YouTube tinha náuseas.
Até que vi o vídeo que vai abaixo. Laços é um curta metragem com roteiro de Adriana Falcão e atuação de Clarice Falcão . Foi o vencedor de um concurso mundial de curta-metragens realizado pelo google.


sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Mino Carta

Alguém ainda lê Carta Capital? Pensava que além dos estudantes de jornalismo e dos leitores de segundo caderno ninguém mais dava bola para a revista do gourmet - disfarçado de jornalista - Mino Carta. Estava enganado.
Roberto Requião - o nosso Bolanõs - declarou que lê apenas Carta Capital. De acordo com o humorista involuntário Carta Capital é a única revista verdadeiramente independente, que não fica mudando de anunciante. Requião está coberto de razão. Carta Capital possui um único anunciante - o Governo Federal. A relação entre a revista e o Governo Federal é tão esdrúxula que chega ao cúmulo de filiados do PT obterem descontos na assinatura da revista. Isso mesmo! Filiados do Partido do Trambique ganham 50% de desconto na assinatura do semanário. Isso sim é independência!
Abaixo uma foto de Mino Carta com o seu anunciante, ou melhor, financiador. Financiador como se sabe, deve ser tratado a pão-de-ló.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O ator e o dublê

"É curioso, mas nossa cultura política atual tende a repudiar o acirramento dos embates eleitorais, como se quem o propusesse cometesse um pecado", escreveu [15/10] o diretor do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, em artigo publicado pelo jornal Estado de Minas. "Espera-se dos candidatos uma espécie de falsa cordialidade, o tal debate em alto nível". Concordo com Coimbra. Apesar de ele ter aquele jeito songa-monga de falar, Coimbra foi feliz em evidenciar essa prática que é totalmente natural em disputas políticas. Se não, vejamos: numa das democracias mais sólidas do mundo, a americana [lógico], embates em eleições são feitos sem a desculpa esfarrapada de serem taxadas como de baixo nível. Sarah Pallin diz que Obama é amigo de terrorista. Se isso é verdade ou não, ou se é certo ou não, fica a cargo do eleitor. E se a pessoa se sentir ofendida [nesse caso Obama], que procure ela o caminho legal – a lei.

Estou enrolando, mas foi por uma boa causa. Ontem à noite aconteceu mais um debate entre os candidatos à prefeitura de Belo Horizonte na TV Alterosa. Este já deve ter sido o debate de número... Sei lá eu.

Já na porta via-se uma movimentação de torcidas organizadas [leia-se: pessoas pagas para torcer] de ambos os candidatos. Ah! Devo dizer que a minha presença no debate surgiu de um convite que a própria emissora fez aos alunos de jornalismo de todas as faculdades de BH. A entrada no local onde houve a transmissão do debate foi muito tumultuada. Estudante sofre! Enfim, depois de esperar mais de trinta minutos sob forte calor humano, consegui sentar em meu lugar na platéia. Antes de começar, um funcionário da casa pediu que o público não se manifestasse em momento algum, pois poderiam ser convidados a se retirar com a ajuda singela dos seguranças.

O debate começou com uma pergunta sobre esporte. Nada demais. Depois, outra pergunta sobre o metrô. Até então os dois candidatos ficaram em seus púlpitos respondendo às perguntas dos jornalistas convidados. Na segunda pergunta, feita pelo editor de política do Estado de Minas, Baptista Chagas de Almeida, uma surpresa: Leonardo Quintão tirou o microfone do suporte e saiu do seu lugar para ficar andando de um lado para o outro. Márcio Lacerda ficou parado – piscando sem parar. Ele não aproveitou o momento para mostrar que também estava à vontade como Quintão.

Não demorou muito para que o clima começasse a mudar no debate. Com uma pergunta sobre o envolvimento de Márcio Lacerda no caso do mensalão, Quintão abriu o segundo bloco. Lacerda enfim saiu de sua posição de poste. Pegou o microfone sem fio e movimentou-se com pouca desenvoltura, lembrando uma imitação de Sinatra. Ao invés de cantar, ele procurou defender-se das acusações do seu oponente. Quintão adotou um tom de voz ríspido todas as vezes em que respondeu a Lacerda. O peemedebista usava de sua retórica política para responder e devolver as perguntas a Márcio. Em uma destas, Quintão, interpelou-o com a seguinte indagação: "O senhor candidato, se considera de centro-esquerda ou de direita?" Lacerda disse que era de centro esquerda. Aí a coisa desandou. Ainda nesse tema, o socialista falou que direita era o DEM [de Gustavo Valadares, filho do ZIZA]. Quintão argumentou que a candidatura de Márcio tinha o apoio do democrata Gustavo Valadares, e por isso ele não poderia se dizer de centro-esquerda. Márcio se enrolou e piscou mais ainda. Disse que os Democratas estavam livres para apoiar quem eles quisessem assim que terminasse a votação do primeiro turno. Valadares, segundo Lacerda, o procurou para dar seu apoio. Até aí tudo bem, mas quando Lacerda foi tocar no assunto de sua aliança com o PT de Fernando Pimentel, não foi nada feliz. Partindo do pressuposto de que Pimentel é centro-esquerdista, Lacerda derrapou ao desqualificar uma parcela que ele classificou como facções radicais do PT mineiro. Quintão não pensou duas vezes ao fazer sua réplica; lembrou que no PT mineiro ele tinha conhecido muita gente boa, no tempo das eleições de 2006. Falou muito em nomes como Patrus Ananias, Luiz Dulci e Lula. Disse que boa parte do PT está com ele por não aceitar as imposições "autoritárias" de Pimentel. Essa doeu até em mim.

No início do terceiro bloco, Márcio não reparou que o assistente de palco colocou um banquinho ao seu lado. Foi até alertado pelo apresentador/mediador sobre a novidade. Um momento em que até eu não consegui me segurar e caí na gargalhada. Depois disso, Márcio respondeu rápido a uma pergunta sem muita relevância de Quintão, e aproveitou o tempo que lhe restava para falar e se defender mais sobre o mensalão. Disse que Quintão estava usando esse tema porque estava desesperado. Ratificou que nunca teve o nome sequer relatado nos autos do processo. E atacou logo em seguida. Disse que era melhor o outro candidato se preocupar com as fraudes em Ipatinga, onde seu pai, Sebastião Quintão, foi prefeito. Quintão ficou muito incomodado com a fala do adversário. Realmente, processo não é um assunto agradável para os dois.

Enquanto a troca de acusações comia solta, as regras para a platéia foram quebradas. Me senti em pleno Mineirão em dia de Atlético e Cruzeiro. Eram vaias para lá, vaias para cá, uma bagunça. O mediador até pediu que fossem cumpridas as regras, mas não adiantou muito. Em uma das cadeiras acima de onde eu estava, tinha uma trinca de meninas de uma faculdade suspeita [aqui vai o auge de minha polidez]. Não paravam de falar em momento algum! Colegas de curso [e de blog] que sentaram na mesma fileira que eu, não estavam mais agüentando tanta sandices pronunciadas pelo trio. Era um "Quintão você é lindo", "Ai! Minha mãe também gosta de você" entre outros absurdos. A cereja do bolo eram as ligações que uma das moças fazia para a mãe, em casa, durante os intervalos, para saber se ela havia aparecido em cada bloco do programa. Um outro companheiro de blog, que acompanhou o debate pela TV, disse que não ouviu muitos sons vindos da platéia. Só vira uma mulher que toda vez que era focalizada no enquadramento do apresentador aparecia um pouco sonolenta.

No último bloco antes das considerações finais, Quintão começou com tudo para cima de Lacerda. O tema era acessibilidade. Numa outra pergunta, Lacerda dissera que Quintão votou contra um projeto de lei que melhoraria a vida de pessoas com deficiência física, e que por isso não era uma pessoa solidária. Quintão devolveu a pergunta com um sorriso irônico, e falou que o candidato não sabia nada do que estava falando, pois nunca foi um parlamentar. E que o que aconteceu na verdade não passava nem perto “do real”. Fiquei sem entender!

Quintão abordou o tema das campanhas clandestinas. Agora é a vez de Márcio fazer uso da pergunta de Quintão; este havia perguntado àquele sobre a campanha clandestina de que vinha sendo vítima, e indagado se o adversário aprovava estas táticas. Lacerda disse que também sofre com campanhas clandestinas, mas ponderou que ele está processando o seu adversário na justiça por esse tipo de atitude. E mandou um recado junto em meio a resposta: alertou Quintão para que, caso ele se sinta prejudicado, que utilize também os meios legais. Aplausos. A trinca feminina às minhas costas não aprovou a fala de Lacerda.

Ao passo que outras perguntas foram surgindo e sendo respondidas, o último bloco terminava com saldo positivo. Não aceito a pecha de baixo nível dada pela maioria da imprensa para o debate. Não. Foi um momento onde se discutiu tudo o que o eleitorado deve saber, entre propostas de governo e a vida pregressa de cada candidato. Debate "de alto nível" é uma completa falácia; um eufemismo para conchavo entre comadres que não se gostam.

Considerações finais. Márcio Lacerda: "Não sou melhor ator que o outro candidato, mas sou melhor administrador”. Quintão devolve: "O Candidato disse que eu sou melhor ator, então ele é melhor dublê". Fui embora preocupado em como chegar em casa. Ônibus de madrugada é quase uma visão de outro mundo. Fui de táxi.

PS: Nesta sexta teremos o último debate, de número sei-lá-eu, antes do pleito no Domingo. Na Rede Globo. Sem platéia, e sem a trinca.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Do blog do Reinaldo Azevedo



O que vai acima é trecho do debate da Band, na semana passada, entre Márcio Lacerda (PSB) — o candidato de Aécio Neves, Fernando Pimentel e Ciro Gomes à Prefeitura de Belo Horizonte — e o peemedebista Leonardo Quintão. Dado o título do vídeo, parece ter sido postado por algum simpatizante de Lacerda. Se for, trata-se de alguém que não está entendendo direito o que está em curso. Não sei como foi o debate de ontem.

Na semana passada, achando que estava tendo uma grande sacada, Lacerda pergunta se o adversário acreditava nas acusações de Jô Moraes, candidata do PC do B derrotada no primeiro turno e agora apoiando Quintão. Jô acusava Lacerda de envolvimento com o mensalão. A resposta do peemedebista é uma espécie de emblema do “mineirin isperto” e de sua ascensão nas pesquisas.

Quintão diz o seguinte, nessa ordem:
- “Tenho muito respeito pelo senhor” (moço educado);
- “O Sr. tem idade para ser meu pai” (faz o eleitor comparar a sua aparência de galã de quermesse com a figura do outro, vetusta e cinzenta, de cara sempre fechada);
- “Quem tem de acreditar ou não é o eleitor, não sou eu” (bem no fígado);
- “Eu, pessoalmente, respeito o senhor. Não sei da vida do senhor porque eu não o conhecia (aqui, chama a atenção para o fato óbvio de que quase ninguém, em Belo Horizonte conhecia Lacerda, candidato inventado por Aécio e Pimentel).

Mais: notem o acento, digamos, “acariocado” de Lacerda em contraste com o sotaque “mineirin” de Quintão. No interior, quando a gente vê um falso sonso, a gente diz: “Esse, de bobo só tem o andado”. Nós, os caipiras, alimentamos a lenda de que somos mais espertos do que os “almofadinha da cidade grande”, sabem cumé? É claro que se trata de uma lenda reativa, autodefensiva, mas convém não dar mole...

Permito-me um pequeno vôo, sem ambição teórica, mas com alguma história. Há todo um subgênero na chamada “música caipira” (nada a ver com esses breganejos) que trata desse confronto entre o dotô e o matuto — que sempre se dá bem no fim. Tião Carreiro e Pardinho, a dupla que se tornou referência da boa música de viola, explorou muito o tema. Leia, se quiser entender direito do que falo, a letra de Rei do Gado (dá até para ouvir a canção). Trata de um país que ainda tinha a maior parte da população no campo — e não do Brasil contemporâneo, com 80% na cidade — muito acima dos países europeus, por exemplo —, o que é um problema, não uma solução. Mas esse é assunto para outra hora. De volta.

Quintão, eu sei, é o falso matuto. Vem de uma família de políticos experimentados, estudou no exterior, é cobra criada. Eu ousaria dizer que aquele seu sotaque é coisa de mineiro imitando mineiro... Acontece que a eleição em Belo Horizonte se transformou num jogo de personalidades construídas — e ele só aproveitou a janela de oportunidades que lhe foi aberta por Aécio Neves e Fernando Pimentel. A dupla pode assistir ao insucesso de sua criação bastante original: o coronelismo urbano: “É pra votar neste aqui”. Sim, mas quem é esse? “Não importa, a gente tá mandando”. Há o risco de Aécio ver a tal “aliança inédita” ir para o brejo e de Pimentel entregar ao PMDB 16 anos de administração petista. Por que falo em jogo de aparências? Porque Lacerda foi apresentado como a solução técnica, “o” administrador que, vá lá, deveria apenas ser homologado por uma disputa eleitoral. Não funcionou. Muita gente diz: "Quintão é a pior solução para Belo Horizonte". É? Que chance Aécio e Pimentel deram à população de escolher a melhor?

O vídeo acima demonstra que Lacerda até pode ser o “ó do borogodó” em administração, mas é ruim de política pra chuchu. Imaginar que o adversário vai lhe passar um atestado de boa conduta expõe a sua principal ingenuidade: achar que o oponente é tonto. E, como se vê, de tonto não tem nem o sotaque, também ele peça de marketing.

Não conheço em detalhes a administração de Belo Horizonte e as reais potencialidades de Lacerda e Quintão. É até possível que a solução de continuidade seja a preferível para a cidade. Mas, se não acontecer, a culpa é de Aécio e Pimentel. Os dois, sozinhos, acharam que podiam substituir o povo. E o povo erra e acerta, mas não tem substituto. Ou tem: ditadura. Uma péssima substituição.

E notem. A eleição em Belo Horizonte tem sido tão surpreendente, que pode dar qualquer coisa por lá, inclusive a virada de Lacerda. Vejam que curioso: só há essa trajetória de solavancos porque há algo de profundamente antinatural na disputa — considerando que a naturalidade é a democracia, que compreende a construção de candidaturas ao longo do tempo — jamais paridos no bolso do colete.

Mesmo que o ungido pelos caciques vire o jogo, a lição está dada: ninguém deve votar em lugar do povo.

Hoje terá mais um debate entre os canditados à prefeitura de Belo Horizonte na tv Alterosa (22:30H). Estarei lá para fazer a cobertura para o blog. Volto amanhã com o que aconteceu nesse debate. Fábio Saldanha

terça-feira, 21 de outubro de 2008

McCain

João Pereira Coutinho é o melhor colunista da Folha de São Paulo. Possui o melhor texto, o mais fluido. Deve ser porque é português.
Quase sempre concordo com o que Coutinho escreve .E concordo ainda mais quando ele escreve um texto corroborando aquilo que escrevi ontem no blog .
Afirmei que McCain será o novo presidente dos Estados Unidos, e hoje Coutinho faz uma coluna mostrando a razão pela qual Obama não será eleito .
Publico na integra o texto de Coutinho.

John McCain, presidente

por JOÃO PEREIRA COUTINHO

ALGUNS COLUNISTAS não têm vergonha na cara. Felizmente, sou um deles. Em dezembro de 2007, quando o mundo apostava em eleições presidenciais americanas entre Rudy Giuliani (republicano) e Hillary Clinton (democrata), eu olhei para a minha bola de cristal e disse, com certeza cósmica: McCain vencerá. Lembram? Escrevi aqui e recebi assobios de volta.
Muita água passou debaixo da ponte. McCain foi o candidato republicano. Mas as pesquisas atuais são esmagadoras para McCain. Sete pontos de desvantagem são sete pontos de desvantagem. E perder Estados-chave (como a Flórida ou a Virgínia) praticamente resolve a questão presidencial a favor de Barack Obama. E agora, Coutinho?
Agora, volto a olhar para a minha bola de cristal, e McCain continua vencendo. Os leitores não acreditam no colunista? O colunista vai tentar convencer os leitores.
Sim, qualquer jornal diz o óbvio: McCain falhou em dois momentos essenciais. Falhou na crise financeira e nos debates televisivos.
Na crise, McCain falhou na forma inicial como lidou com ela: ao suspender a campanha eleitoral e ao ameaçar não comparecer ao primeiro debate, o comportamento de McCain não foi entendido como politicamente responsável, mas como oportunista e errático. McCain começou a sangrar nesse preciso momento, quando ainda liderava nas pesquisas.
E os debates? Os debates não foram meigos para McCain. Substancialmente, McCain venceu os três: é o mais preparado em política externa e, economicamente falando, a América não se salva com mais Estado; salva-se com melhor Estado, ou seja, com uma administração que seja capaz de não interferir abusivamente no mercado em nome de uma agenda "social".
Mas Obama venceu porque televisão é imagem, e imagem é poder. Ele é jovem, retoricamente hábil e um crítico de Bush; McCain é velho, fisicamente limitado e injustamente colado a Bush.
Apesar de tudo, mantenho minha aposta em McCain. E mantenho minha aposta porque as pesquisas não merecem confiança. Os republicanos sempre se deram mal com elas. Em 1980, dez dias antes da eleição, Reagan (39%) perdia para Carter (47%). Dez dias depois, Reagan vencia Carter. Os analistas dizem que o caso só é explicável pela crise dos reféns americanos na embaixada de Teerã, que Carter não soube resolver. Verdade.
Mas existe um padrão nas pesquisas dos últimos 30 anos, que sempre foram tradicionalmente benevolentes para com os democratas. Será preciso relembrar as pesquisas de 2000, quando Al Gore vencia Bush?
Ou a vitória virtual de John Kerry sobre o mesmo Bush em 2004? Deu no que deu.
A juntar a tudo isso, Obama é negro. Eu sei que não é politicamente correto relembrar o fato. Mas conto uma história para sossegar os ânimos: em 1982, Tom Bradley era candidato a governador da Califórnia. Bradley liderava nas pesquisas com margem confortável. Bradley era negro. No dia da votação, Bradley perdia para George Deukmejian, o candidato branco.Moral da história? Existe um racismo escondido que diz uma coisa para as pesquisas e outra para o boletim de voto. Os números atuais não refletem os cinco pontos (mínimo) que o "efeito Bradley" costuma roubar ao candidato negro.
E se os especialistas afirmam, com infundada certeza, que a América está menos racista do que em 1982, é necessário recordar um pormenor básico: desde então não houve uma oportunidade séria para testar esse otimismo. Como disse recentemente Edward Luce, colunista do "Financial Times", os políticos negros que são eleitos nos EUA representam apenas eleitorados igualmente afro-americanos. Jogar em casa não vale.As pesquisas devem ser lidas com ceticismo. E se McCain, até dia 4/11, mostrar que é o líder mais preparado e experiente para levantar a economia americana sem um assalto abusivo ao bolso dos contribuintes; e se conseguir reconquistar o centro moderado sem alienar a falange direitista dos republicanos, o mundo inteiro que já elegeu Obama para a Casa Branca vai abrir a boca de espanto e horror.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Fogo de Palha

Parece que o azarão do primeiro turno não vai ganhar. Era só fogo de palha. Sei que estou correndo um grande risco ao apostar no fóssil vivo do Márcio Lacerda. E tenho a convicção que John McCain será o próximo presidente norte-americano.
Hoje tive uma discussão com o Fábio sobre a legitimidade ou não da candidatura do Márcio Lacerda. Somos de opiniões contarias, talvez até pelo fato de não estar em Belo Horizonte. Pode ser que realmente eu não tenha a noção exata do que esteja acontecendo nesta eleição.Não obstante, acho que o ex-companheiro da Dilma Roussef ganhará. O povo é tonto, mas nem tanto. Esse falso sotaque de caipira, esse jeito de bom moço não engana mais. Se é verdade que o Márcio Lacerda era um desconhecido, o tal do Quintão não era lá muito conhecido. Eu por exemplo não o conhecia, e como diria Paulo Francis "se eu não conheço è por que não importa".
Se Quintão realmente perder não terá sido por falta do apoio e do voto dos jovens. Se existe uma parcela particularmente idiota da população essa parcela é a juventude. Como adolescente é estúpido! De acordo com o Datafolha, Quintão tem a preferência de 55% dos eleitores com idade entre 16 e 24 anos.
Esse dado me fez lembrar um artigo do filósofo Olavo de Carvalho. Em seu artigo, publicado em 1998, Olavo desconstroi a suposta beleza da juventude. O artigo é relativamente longo para ser publicado em um blog, por isso transcrevo somente um trecho. “Eis o motivo pelo qual a juventude, desde que a covardia dos adultos lhe deu autoridade para mandar e desmandar, esteve sempre na vanguarda de todos os erros e perversidade do século: nazismo, fascismo, comunismo, seitas pseudo-religiosas, consumo de drogas. São sempre os jovens que estão um passo à frente na direção do pior. Um mundo que confia seu futuro ao discernimento dos jovens é um mundo velho e cansado, que já não tem futuro algum."

domingo, 19 de outubro de 2008

Velhos preconceitos

A liberdade de criação do mundo contemporâneo às vezes me impressiona. Já é algo dito e conhecido que conceituar alguma produção artística atualmente é uma tarefa difícil. Unir dentro de um mesmo produto pensamentos e vertentes totalmente distintos até opostos é o mais comum entre artistas contemporâneos.
Neste contexto, fui pesquisar sobre a comédia stand-up. Gênero criado e consagrado nos EUA começa a ganhar espaço nos palcos brasileiros. Belo Horizonte possui um único grupo destinado a este gênero.
Ao pensar em comédia stand-up gostaria de ligar este estilo humorístico a improvisação teatral. Mostrar as semelhanças e diferenças entre dois gêneros que para muitos podem parecer a mesma coisa.
A comédia stand-up ou comédia de pé assemelha-se a um bate papo, onde o “ator”, que necessariamente não passou por escolas de teatro, aborda temas cotidianos. O humorista não faz uso de figurino, maquiagem ou qualquer recurso cenográfico. A naturalidade da comédia de pé nos passa uma idéia de improviso. Entretanto não é bem assim que acontece. O ator deste gênero utiliza de um pré-roteiro que guia seu show. O improviso existe no stand-up, porém não se desenvolve a partir dele.
Primeiramente conversei com um grupo argentino de improvisação. Ao ser perguntado sobre a relação entre os dois gêneros, o diretor do grupo deixou bem claro que a comédia stand-up era algo muito distinto da improvisação teatral. Saí da conversa acreditando ser impossível estabelecer uma ponte entre os dois assuntos.
Fui buscar outras fontes. Conversei com o grupo de comédia stand-up de BH e Walmir Ferreira que é professor de teatro.
Após todas as entrevistas percebi certo preconceito do meio artístico (“acadêmico”) em relação aos humoristas adeptos da comédia de pé. O que atrapalha o desenvolvimento e consagração do estilo.
Improvisar dentro do teatro é criar, “não há interpretação sem improvisação”. É o velho preconceito das academias em classificar o produto deles como superior ao popular.
A mesma situação se repete em outras manifestações artísticas como, por exemplo, o grafite. Neste caso muita coisa já mudou. A Bienal Internacional de Grafite mostrou isso. Já há uma movimentação forte para tornar o grafite uma forma de arte contemporânea.
Neste mundo nutrido pela diversidade, nos consideramos uma geração aberta ao novo. Porém, o que acontece na prática é que ainda cultivamos valores conservadores relacionados a coisas simples. Conceitos que tornam-se uma barreira para a criação artística.

sábado, 18 de outubro de 2008

García Márquez

Gabriel García Márquez anunciou que não escreverá mais. Disse que provavelmente não terminará sua autobiografia "Viver para Contar".
Não posso afirmar que estou particularmente triste. Acho García Márquez um escritor mediano - já estou esperando a resposta do Bossuet -, não muito superior a Jorge Amado por exemplo. Tenho a impressão de que daqui a cem anos não se falará muito em Gabo ou Amado.
Não que sejam ruins, são apenas medianos. Acho José Lins do Rego - ou até mesmo Rachel de Queiroz - superior a Jorge Amado. Lins do Rego, ele sim é o nosso grande memorialista. Para uma excelente análise dos romances regionalistas é obrigatória a leitura do livro "Polígono das Secas" de Diogo Mainardi.
E não acho que García Márquez seja superior ao peruano Mario Vargas Llosa, escritor que não recebe a devida atenção do público e da crítica. Talvez porque Llosa se recuse a bajular os ditadores latino americanos.
Na verdade não me interessa muito se García Márquez continuará a escrever ou não. Achei sua novela "Memórias de Minhas Putas Tristes" muito abaixo de seus outros livros. Não entendo essa obsessão que os escritores têm de sempre lançar um livro. Poucos são aqueles que conseguem manter o mesmo nível por muito tempo. Deveriam fazer como Raduan Nassar. Nassar escreveu duas obras primas da prosa moderna brasileira e depois foi criar galinhas. Ou então fazer como Bruno Tolentino que escreveu durante quarenta anos o seu grande livro "O Mundo Como Idéia". O livro que Tolentino escreveu mais rápido, creio eu, foi "Balada do Cárcere" e demorou uns onze anos .
Gabriel García Márquez disse que em alguns momentos sente depressão. Depressão que decorre do fato de sentir que tudo está acabando. Eu se fosse ele sentiria depressão por ter defendido a relatividade da vida humana enquanto comia caviar do mar Cáspio ao lado do comAndante

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Chiara Civello

O vídeo abaixo mostra Chiara Civello, uma das grandes cantoras italianas contemporâneas mas ainda pouco conhecida em seu país. Para quem acha que musica italiana se resume a Laura Pausini, Eros Ramzzotti ou Peppino di Capri vale a pena escutar Chiara Civello.

Mais uma do tocador de cavaquinho

Luís Nassif. Será que alguém ainda o leva a sério? Tenho a impressão que só o sindicato dos jornalistas de Belo Horizonte e o Moazhir ou seria Mozahir Salomão, sei lá eu , acreditam em algo do que Nassif escreve.

Um parêntese. Para quem não conhece Mozahir, ele é professor da PUCMinas . Também é o picotador oficial de papel durante palestras na universidade. Além de professor ele é secretário de comunicação da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Acho que mais ninguém além das categorias supracitadas dá bola para copydesk de release. Digo categorias, porque Salomão[não o da Bíblia] representa toda uma "catchiguria" de pensamento.

Nassif, que além de achar que o jornalista Mário Sabino é o ghostwriter do colunista Reinaldo Azevedo, deu agora para se comparar ao mais novo prêmio nobel de economia .

Eu iria publicar somente o texto no qual o CTRL-C CTRL-V se compara a Paul Krugman, mas não é que Nassif consegue ser ainda mais ridículo! Ontem o dito cujo publicou um dos textos mais asquerosos da imprensa brasileira. Nunca vi um jornalista [Paulo Henrique Amorim não é jornalista] escrever um texto tão elogioso a um político como o que Nassif escreveu.

Abaixo reproduzo os dois textos. O site do músico disfarçado de jornalista é

http://www.projetobr.com.br/web/blog/5

O Nobel de Krugman

Por Luis Nassif

O Prêmio Nobel é de Paul Krugman, por suas pesquisas sobre o comércio internacional. E também pelo extraordinário bom senso e coragem de se antecipar a todos nas críticas a Alan Greenspan.

A propósito, lembro-me, logo depois do Real, de ter escrito um artigo mostrando que, após uma decisão de abertura econômica, leva um tempo para os países aumentarem as importações. Depois de uma pausa, dependendo do nível da abertura, haveria uma enxurrada.

O então Ministro do Planejamento José Serra me telefonou perguntando se estava acompanhando as pesquisas de Krugman em Harvard. Elas já chamavam a atenção do mundo acadêmico. Disse-lhe que não tinha a menor idéia sobre elas. Então, como tinha escrito aquele artigo?

Fui dar uma palestra para a Arcon, atacadista de Uberlândia. O país inteiro esperando que as importações começassem, para segurar as pressões de preços. Perguntei para os donos da empresa a razão da demora.

- É simples -, me disseram. Precisamos descobrir quais produtos interessam aos consumidores, entrar em contato com os fornecedores, aprender a importar, conseguir linhas de financiamento. Daqui a alguns meses, viremos com tudo.

Não havia nada de excepcional na minha análise. Apenas o fato de ter conversado com quem estava na linha de frente.


A articulação dos bagrinhos
Por Luis Nassif

Não sei se Lula será reconhecido como um dos maiores presidentes do país ou o homem que perdeu uma oportunidade histórica. O futuro dirá. Mas, garanto que nunca vi um presidente da República que trabalhasse tanto. Talvez Ernesto Geisel. Não tem um dia em que Lula não esteja em algum evento importante, aqui ou em qualquer parte do mundo. Aliás, se alguém puder levantar a agenda dele nos últimos 30 dias e colocar em um post da Comunidade do Blog, seria interessante para conferir.

Ontem estava na Índia.Segundo matéria de Sérgio Léo, no Valor , acertando a questão da cooperação com os indianos no aprimoramento do rebanho zebuíno. A pedido de Silvio Crestana, presidente da Embrapa, deu um aperto nos indianos, para que liberem o sêmen bovino.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Perigo Fascista 2

Hoje tinha programado escrever sobre outra coisa que não fosse política, fascismo e congêneres. Já tinha começado a fazer um texto sobre a poesia moderna persiana. Especificamente sobre a poesia do multi artista iraniano Abbas Kiarostami.
Durante anos fui um viciado em política. Boa parte da minha pequena biblioteca é formada por livros que tratam disso. Passava horas e horas lendo sobre partidos, instituições, esquerda, direita, marxismo e os ismos todos. Ficava irritado, discutia e perdia a paciência com a desonestidade intelectual de professores e a lavagem cerebral que se fazia nas salas de aula. Ao invés de nos ensinarem os rios que cortam o Brasil, aprendíamos que "De Fernando em Fernando o Brasil vai se ferrando".
Até que chegou uma hora que cansei disso. Tentei me concentrar no que realmente valia a pena. Tornei-me um obcecado por Bruno Tolentino, Fernando Pessoa, Manoel de Barros, Mário de Sá Carneiro. Tenho a impressão que isso explica um pouco a minha decisão de morar em Veneza. Morar em Veneza é como se ausentar do mundo, deste mundo. Veneza é impermeável a modernidade.
Mas claro que isso é uma ilusão. "Caelum, non animum mutand qui trans mare currunt". Os que cruzam o mar mudam de céu, não de espírito; Horácio. E por isso tento fazer como Ingmar Bergman ". Eu sempre soube atrelar meus demônios a minha carroça. Eles continuam me atormentando, mas eu os obrigo a me ser úteis."
Fiz essa digressão toda como uma forma de pedido de desculpas a mim mesmo, para poder comentar uma noticia.
Leio no Corriere della Sera, que a câmara de deputados italiana aprovou um projeto de lei que cria salas de aula exclusivamente para estrangeiros. Isso mesmo.
O projeto, de autoria do deputado Roberto Cota, prevê que os estudantes estrangeiros, que não possuem um bom domínio da língua italiana, devam estudar em uma classe separada. De acordo com o deputado, um dos lideres do partido xenófobo, Lega Nord, a falta de destreza dos imigrantes com a língua italiana prejudica o bom andamento das aulas e acaba por atrapalhar os garotos italianos.
É assustadora a velocidade com que a intolerância cresce na Itália. Propostas semelhantes como a do deputado Roberto Cota, até pouco tempo não eram nem levadas em consideração, faziam parte do folclore político. Tinham o mesmo valor que a bomba atômica do Enéas.
O que essa lei cria na prática são estudantes de primeira e segunda classe. O argumento dos que defendem a lei é que isso favorece uma real integração. Pergunto-me como pode existir integração sem um mínimo de contato. Onde mais o filho de um paquistanês pode aprender italiano senão em uma escola italiana, conversando com garotos italianos.
Além disso, a lei prevê que para um numero x de estudantes estrangeiros deve haver um percentual mínimo de italianos. Isso para evitar que uma sala de aula italiana tenha mais estudantes estrangeiros que italianos, mesmo que aqueles saibam a língua de Dante.
A Itália sempre foi um país de emigrantes. E não me consta que o governo Brasileiro tenha criado classes especificas para os filhos dos imigrantes. E foi justamente essa condição histórica italiana que permitiu que Bruno Tolentino escrevesse um dos seus mais belos poemas. Chiesa Dei Tolentini (Veneza 1567-1967)
Chiesa Dei Tolentini (Veneza 1567-1967)
Oculto reino nosso
onde cantam os ossos
daqueles cuja voz
ecoa em nosso eco,
e em cada um de nòs.
Nas lajes sem memòria
cruzam-se a luz do do dia
e o cantochão dos ossos :
irrequieta harmonia,
sepulto reino nosso
que em silencio te avias
rente às heras sombrias
e severas do púlpito.
Eco da luza canora.
Milagre oculto.
Só uma observação. Nas escolas alemãs os garotos italianos são, dentre os europeus, os que possuem o pior rendimento. Quem sabe não seria uma boa idéia a criação de uma classe especial para esses ragazzi. Uma coisa tipo Luziana Lanna. Pessoas diferentes precisam de métodos diferentes.

Relógio de ponto

Tudo que levamos a sério
torna-se amargo. Assim os jogos,
a poesia, todos os pássaros,
mais do que tudo: todo o amor.

De quando em quando faltaremos
a algum compromisso na Terra,
e atravessaremos os córregos
cheios de areia, após as chuvas.

Se alguma súbita alegria
retardar o nosso regresso,
um inesperado companheiro
marcará o nosso cartão.

Tudo que levamos a sério
torna-se amargo. Assim as faixas
da vitória, a própria vitória,
mais do que tudo: o próprio Céu.

De quando em quando faltaremos
a algum compromisso na Terra,
e lavaremos as pupilas
cegas com o verniz das estrelas.

Alberto da Cunha Melo

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Do blog cubano Generación

Na quinta-feira estreiou em toda a Ilha um filme sobre a guerra de Angola. Nos arredores dos cinemas os casais preferiram mudar o rumo e irem a lugares escuros, pois a campanha cubana na África lhes desperta pouco interêsse. O filme padece de um atraso de um par de décadas e aborda uma história que ainda tem partes secretas. Kangamba provocou grandes filas e apaixonados comentários nos finais dos oitenta; porem, nestas alturas, poucos querem rememorar o ocorrido.
A contenda cubana em terras angolanas foi a maior guerra da história de Cuba. Quinze longos anos pelejando em outro solo, matando ou deixando-se matar por gente que não sabia muito bem onde ficava esta Ilha. Eram os tempos em que o Kremlin projetava sua sombra sobre Cuba e dependíamos tanto dele que nossos líderes não duvidaram em somar-se à sua campanha contra a UNITA. A geopolítica planeja essas duras provas para os pequenos países que orbitam ao redor dos grandes impérios.
Noto que nestes tres lustros de conflito não aconteceu em nenhuma praça pública um protesto de mães cubanas para não enviar seus filhos à frente. Ninguem lançou nos meios de comunicação a pergunta que todos sussurávamos “Que fazemos em Angola?” e muito menos um movimento pacifista encheu de pombas brancas algum ponto de recrutamento. Éramos mais dóceis como cidadãos do que somos hoje, e nos levaram a perecer e a matar sem saber bem o que fazíamos.
Hoje estamos informados de cada baixa que sofre o exército norte americano no Iraque, porem recordo o secretismo sobre o numero de soldados cubanos caídos durante a guerra angolana. Nòs nos inteirávamos que o vizinho havia perdido um irmão ou que o colega de trabalho regressava sem uma perna, porem a imprensa só tocava a sinfonia da vitória. Os mortos eram chorados na privacidade das famílias que não entendiam muito bem o que faziam seus filhos no outro lado do Atlantico. Ficaram os nichos no cemitério, as fotos emolduradas nas salas das famílias, os vasos de flores repletos em cada aniversário e os longos discursos dos que haviam visto a guerra desde cedo, porem nada supõe responder com clareza a pergunta: Que faziam os cubanos em Angola ?

YOANI SÁNCHEZ

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O Perigo Fascista

Gianni Alemanno. Quem é Gianni Alemanno? Digamos que Alemanno é o Leonardo Quintao italiano.
Na última eleição para a prefeitura de Roma ninguém poderia imaginar que Gianni Alemanno venceria. Mas venceu.
Alemanno é um dos expoentes [infelizmente] da direita italiana. O seu partido, Alleanza Nazionale, é filho do post fascista MSI (Movimento Sociale Italiano). Este foi criado em 1946 pelos herdeiros do regime fascista e, entre seus lideres figurava Arturo Michelini, vice presidente do Partido Nazionale Fascista de Mussolini. O Movimento Sociale Italiano representa para a Alleanza Nazionale o mesmo que o MDB para o PMDB no Brasil.
O problema é que Roma não é Belo Horizonte. Como disse Paulo Zottolo, ex-presidente da Philips do Brasil, sobre o Piauí "Se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado" , o mesmo se pode dizer sobre Belo Horizonte. Se Belo Horizonte deixar de existir o mundo não se dará conta . Isso sendo [eu] generoso com Belo Horizonte.
Enquanto Quintão fala "...eles me cobraram mil reais pra MIM ter acesso...", Alemanno anuncia a intenção de rebatizar uma rua de Roma com o nome de Giorgio Almirante. Almirante foi um vivo entusiasta do regime fascista.
Se o bufão mineiro finge um sotaque caipira, o arremedo de fascista faz elogios aos participantes da Republica de Salo. Comentário esse que contou com o beneplácito do ministro da defesa italiana, Ignazio La Russa.
A ultima de Alemanno foi afirmar que o fascismo não foi o mal absoluto. Em uma entrevista ao jornal inglês "The Sunday Times", o prefeito de Roma fez a seguinte declaraçao: "O fascismo foi fundamental para o processo de modernizaçao italiana."
Em um próximo texto vou dar mais exemplos desse perigo pelo qual a Itália passa.

sábado, 11 de outubro de 2008

“ Nenhum estrangeiro è um ser humano para mim “

“ Nihil humanum mihi alienum puto” Se è verdade que o belo ditado latino nunca foi verdadeiramente o resumo de uma era ,não è absurdo afirmar que nunca antes seu inverso foi tão exato para classificar um momento histórico .
Esporadicamente é publicada no Brasil alguma fala xenófoba de um líder europeu . E isso ganha particular destaque quando um grupo de brasileiros é barrado em Barcelona . Mas a realidade é que a violência contra o estrangeiro é cotidiana . Ao contrário do “ Nihil humanum mihi alienum puto “ , se poderia perfeitamente dizer, “ Nenhum estrangeiro è um ser humano para mim “ .
E nenhum país europeu parece estar sendo contaminado tão fortemente por esse sentimento como a Itália , quando em abril passado os italianos reconduziram, depois de dois anos de governo Prodi , Silvio Bersluconi ao cargo de primeiro-ministro ,sabiam perfeitamente o que estavam fazendo .
Nenhum italiano pode alegar desconhecimento em relação ao que sucederia caso Bersluconi fosse eleito . Tendo como um dos principais aliados , o partido xenófobo Lega Nord , que já chegou a defender a divisão da Itália entre o Norte desenvolvido e o Sul pobre , era de se esperar o que se seguiu .
Ao invés de gestir a imigração o governo italiano preferiu criminaliza-la . O ministério do Interior , que tem como uma de suas inúmeras atribuições a questão imigratória , foi entregue não por acaso a Roberto Maroni , um dos lideres da Lega Nord .
Uma das principais medidas anunciadas pelo governo italiano é a coleta da impressão digital das crianças ciganas . Medida que ainda não foi posta em pràtica ,graças ao firme protesto da comunidade europeia . O que não significa que o governo tenha desistido . A lei conta com a simpatia de uma parcela grande do eleitorado italiano . O que é comprovado pelo alto índice de popularidade , um dos mais altos entre todos os ministros , do ministro do Interior .
Sem dúvida a imigração deve ser discutida . Mas não se pode perder de vista o fato que se discute sobre a vida de seres humanos. O choro de uma mãe senegalesa é igual ao de uma mãe italiana ou brasileira .
Porém o que causa mais espanto é a total apatia da opinião publica italiana . O cineasta Nanni Moretti disse ,de forma absolutamente pertinente ,que mais grave que a Itália possuir um primeiro ministro que detém o monopólio da informação televisiva , e isso ser considerado aceitável , é a falta de uma verdadeira opinião pública .
Na última campanha eleitoral italiana o tema insegurança e imigração dominou o debate . E ambos os temas ocupavam o mesmo bloco no noticiário , como se fossem notìcias correlatas.Viraram sinônimos . Como se existisse uma relação causal entre imigração e violência. Como se fosse apenas uma questão de lògica .Temos imigrantes logo temos um aumento da violência .
A letárgica , para usar uma expressão de Moretti , opinião pública italiana não conseguiu demonstrar como esse raciocínio era estúpido . A violência na Itália , ao contrário , vem caindo . E é uma das menores da União Europeia . Nenhum veículo de comunicação mostrou o absurdo que se estava consolidando . Ficaram silenciosos durante toda a campanha eleitoral.
Exceção feita ,ao semanário Famiglia Cristiana . A revista da Igreja Romana desde o primeiro dia vem apontado os engôdos do governo italiano . O governo responde afirmando que a Igreja não pode se ocupar disso .
Não só pode , como deve . Sempre que o mundo ficou entregue aos ismos caminhamos para o totalitarismo . A publicação católica apenas traduziu em editorial o que está no Evangelho de Mateus .
“ E partindo Jesus dali ,foi para as partes de Tiro e de Sidom.E eis que uma mulher cananéia ,que saíra daquelas cercanias , clamou,dizendo: Senhor , Filho de Davi, tem misericórdia de mim , que minha filha está miseravelmente endemoninhada.Mas ele não lhe respondeu palavra . E os seus discípulos, chegando ao pé dele,rogaram-lhe,dizendo:Despede-a , que vem gritando atrás de nos. E ele, respondendo, disse :Eu não fui enviado senão as ovelhas de Israel. Então chegou ela , e adorou-o ,dizendo:Senhor socorre-me. Ele ,porem,respondendo disse :Não é bom pegar no pão dos filhos e deita –los aos cachorrinhos. E ela disse :Sim, senhor,mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores . Então respondeu Jesus, e disse-lhe:O mulher ,grande è a tua fé.Seja isso feito para contigo como tu desejas . E desde aquela hora a tua filha ficou sã “

Pedro Fonseca

O começo

Começamos aqui e não vamos parar nunca!