terça-feira, 25 de novembro de 2008

FALA MENDONÇA DE BARROS – EM QUEM A CRISE VAI DOER MAIS

Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações no governo FHC, é hoje economista-chefe da Quest Investimentos. Dentro do governo ou fora dele — já há muitos anos —, sua capacidade de antecipar cenários, com impressionante dose de acerto, é reconhecida por admiradores e adversários. Na entrevista abaixo, concedida com exclusividade a este blog[o dele,claro], ele diz qual é a fatia dos brasileiros que vai sentir primeiro os efeitos da crise global — que já chegou ao Brasil, incomodando bem mais do que uma simples marolinha. Com base em dados colhidos pela MB Consultores Econômicos, ele afirma que “haverá uma redução importante nos rendimentos do trabalho dos brasileiros com renda superior a 10 salários mínimos”. Pois é, leitor amigo...

Uma das características de Mendonça de Barros é pensar as implicações políticas da economia. Não havendo um agravamento da crise, ele antevê: “O presidente Lula não enfrentará um quadro de desastre que possa destruir o apoio que hoje tem dos mais de 50% dos brasileiros que ganham menos de cinco salários mínimos (...). Eles devem apenas sentir a interrupção da melhora ocorrida nos últimos anos, não uma queda expressiva nos seu nível de vida.”

O país crescerá os 4% antevistos pelo ministro Guido Mantega (Fazenda)? “Com a redução da demanda chinesa, os preços das commodities exportadas pelo Brasil voltaram ao nível de 2002, eliminando, dessa forma, os ganhos na nossa capacidade de importar. Este movimento é que obriga o Brasil a crescer novamente a taxas de 2,5 % ao ano”, afirma Mendonça de Barros.

Na conversa abaixo, ele lembra que os economistas esperavam há tempos uma drástica desaceleração da economia mundial. A crise que chegou, diz, traz características que já tinham sido antevistas, mas também surpreende em muitos aspectos. Segue a entrevista:

Há alguns anos, economistas falam do risco do “The Big One” na economia, aquela que seria realmente uma crise grave, com terríveis efeitos globais. Queria que o senhor caracterizasse a crise que se esperava então.

Há muitos anos vivemos um grande desequilíbrio macroeconômico no mundo, representado pelo excesso de consumo privado nos EUA e de poupança em parte importante do mundo, principalmente na Ásia. Mais recentemente, durante a era Bush, o governo passou a incorrer também em grandes déficits fiscais. Em outras palavras: a taxa de poupança americana ficou ainda mais negativa, o que levou os EUA a ter déficits crescentes em seu comércio com o mundo exterior, como ensina qualquer livro-texto de economia.

Como os EUA emitem a moeda internacional, que é o dólar, esse desequilíbrio se transformou em uma fonte de instabilidade cambial, com um processo continuado de desvalorização da moeda americana. Criou também uma situação de excessiva liquidez no sistema bancário mundial, provocando uma expansão desordenada do crédito em vários países do mundo, principalmente nos próprios EUA, à medida que os dólares exportados voltavam para Wall Street. Essa dinâmica atingiu um estagio gravíssimo nos últimos dois anos, com um aumento brutal da liquidez financeira.

Um dos resultados deste processo de expansão do consumo americano foi o crescimento vigoroso de um grupo de economias emergentes – liderados pela China – por meio do comércio exterior e do investimento privado no setor industrial exportador. Os recursos gerados pelo crescimento de suas exportações passaram a ser reciclados para os EUA por intermédio de aplicações financeiras, fechando o ciclo de desequilíbrios e financiando o déficit externo americano. Vale dizer: governos como o chinês e os dos países exportadores de petróleo equilibravam a balança de pagamentos americana por intermédio da compra maciça de títulos emitidos por Washington.

A correção desses desequilíbrios era uma questão de tempo e viria necessariamente por uma redução do consumo nos EUA e de um aumento da poupança privada – principalmente das famílias – da ordem de 7% a 10% do PIB. A esse movimento tectônico, os economistas passaram a chamar de “The Big One”, expressão tomada emprestada do grande terremoto que se espera na região de Los Angeles.

Para ler o resto desta entrevista é só ir ao Blog do Reinaldo Azevedo. Pois eu não ser precessado (RS) !

sábado, 22 de novembro de 2008

País dos Petralhas em BH

Foi na livraria Leitura Mega Store do BH Shopping na última segunda [17/11], que o livro “País dos Petralhas” foi lançado pelo seu autor – Reinaldo Azevedo. Eu estive lá para conferir. Apesar de alguns probleminhas na faculdade que fizeram com que eu chegasse 1H depois do combinado, tudo correu bem.
Seguem as fotos que eu fiz com o meu celular, pois não tive tempo de voltar em casa para pegar a minha câmera.

























quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Madeleine Peyroux

Aécio Neves declarou uma vez que a única coisa que se pode fazer em Belo Horizonte é ir ao Mineirão. Durante muito tempo concordei com ele. Não porque acho que ir ao Mineirão seja um bom programa, mas devido ao fato de não ter nada realmente interessante em BH.
Adoro Belo Horizonte, e não me vejo morando em outra cidade, a não ser Veneza, por muito tempo. Nao obstante, sempre achei impossível que alguém que não tivesse nascido em BH pudesse gostar de morar aí.
Mas de uns tempos pra cá essa minha opinião està mudando. Hoje qualquer pessoa que queira pode fazer um bom programa na cidade, é só dar uma olhada na programação do Palácio das Artes, por exemplo. A Quarta-erudita é uma das iniciativas mais bacanas.
A Orquestra Sinfônica também está voltando a ganhar uma certa vitalidade. Quase toda terça-feira tem um concerto a preço popular – R$5,00 (!).
Não sei se o governador continua indo ao Mineirão, mas posso garantir que nunca o vi em uma apresentação da Orquestra Sinfônica. Sempre vejo o vice-governador e a secretària de cultura Eleonora Santa Rosa. Talvez a grande qualidade do Aécio Neves seja essa. Aécio não sabe nada sobre Belo Horizonte, porém soube escolher uma boa secretària de cultura.
Agora chega de falar bem do governo, porque mesmo que eu tentasse não conseguiria superar o Estado de Minas.
Fiz esse nariz de cera todo para comentar a apresentação que a Madeleine Peyroux fará em Belo Horizonte. Não entendo nada de jazz, e não suporto quem entende de jazz assim como não suporto enólogo. Na verdade não suporto quem faz duas aulinhas de degustação e sai ditando normas de harmonização. Apesar de não saber nada sobre jazz ,acho a Madeleine Peyroux fantástica.
E finalmente ela poderá tocar em lugar decente desta vez. A sua ùltima apresentação na Capital, se não me engano, foi em 2006 no Marista Hall. Não estou contando a sua apresentação no festival de jazz de Ouro Preto. Pergunto-me, como alguém tem coragem de contratar um artista para realizar um show em um lugar como aquele. Toda vez que eu vou ao Marista Hall eu prometo que é a última.
Pois bem, dessa vez a Dona Madalena se apresenta no Palácio das Artes.O show será dia 06 de Dezembro(sábado).
Os ingressos custam:
Platéia I - R$ 200 (inteira) e R$ 100 (meia entrada)
Platéia II - R$ 180 (inteira) e R$ 90 (meia entrada)
Platéia Superior - R$ 150 (inteira) e R$ 75 (meia entrada)
Informações- 3236-7400
PS- E amanhã tem concerto da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. No programa ,Debussy,Ravel, Strauss e Corigliano.Vale a pena!
Abaixo dois vídeos da Dona Madalena.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Sophie Hannah

Leaving and Leaving You

When I leave your postcode and your commuting station,
When I leave undone the things that we planned to do,
You may feel you have been left by association,
But there is leaving and there is leaving you.

When I leave your town and the club that you belong to,
When I leave without much warning or much regret,
Remember, there’s doing wrong and there’s doing wrong to
You, which I’ll never do and I haven’t yet,

And when I have gone, remember that in weighing
Everything up, from love to a cheaper rent,
You were all the reasons I thought of staying
And you were none of the reasons why I went

And although I leave your sight and I leave your setting
And our separation is soon to be a fact,
Though you stand beside what I’m leaving and forgetting,
I’m not leaving you, not if motive makes the act.

Sophie Hannah

domingo, 16 de novembro de 2008

Roberto Carlos

Quem acha que o nosso Rei dos motéis não pode ser mais cafona, è por que nunca o escutou em italiano. Abaixo, três vídeos em que Roberto Carlos canta em italiano.E só uma observação. O pior de Roberto Carlos não são suas mùsicas, mas o seu desprezo pela liberdade de expressão. Além de ter proibido a venda de sua biografia, Roberto Carlos na década de 80, defendeu a proibição da exibição no Brasil do filme Je Vous Salue, Marie, de Jean-Luc Godard.





sábado, 15 de novembro de 2008

Imigração: caso holandês

Em um dos primeiros posts deste blog, o Pedro descreveu a situação da imigração na Itália. Fiz um comentário no texto e não gostaria de ser vista como xenófoba. Escrevo para esclarecer minha opinião sobre o assunto.
Não sou contra a imigração, mas acredito que a os países, principalmente os europeus, devem estabelecer certas regras para a entrada de estrangeiros. Tais medidas com certeza não me beneficiariam como imigrante, mas trariam maior conforto para quem vive no país de uma forma geral.
Para melhor exemplificar, utilizarei o caso holandês. Após o assassinato de Theo van Gogh, cineasta e crítico do fundamentalismo islâmico, por um jovem islâmico de origem marroquina, as leis de imigração holandesas tornaram-se mais rígidas. Marroquinos e turcos correspondem hoje a cerca de 3% da população total do país.
Não quero parecer generalista, mas muitos problemas do país vêm da imigração. Grande parte dos estrangeiros que vivem no país mora em guetos, não se interessam pela cultural local e mesmo com muitos anos de convivência com holandeses não falam a língua. Portanto, eles formam pequenas comunidades que preservam as suas culturas.
Em outubro deste ano Ahamed Aboutaleb, 47 anos e marroquino, foi eleito o prefeito de Roterdã. Quem irá governar o maior porto do mundo tem as mesmas raízes de quem matou Theo. Este foi um resultado comemorado pelos imigrantes, que vêem na vitória uma maior aceitação dos holandeses aos estrangeiros.
Não sei como avalio a conquista, pois dentro do país ainda há muito preconceito. Fui vítima, várias vezes, de uma discriminação discreta por parte dos holandeses. Eles são muito politicamente corretos, por isso nunca vão admitir abertamente que não gostam de imigrantes. Grande maioria preserva certa distância.
As pessoas de maior poder aquisitivo na Holanda pagam inúmeros impostos para dar suporte aos estrangeiros que entram no país. O governo oferece uma ajuda em dinheiro para os cidadãos que moram na Holanda legalmente e não possuem emprego. Portanto, se você é um estrangeiro legal, você possui todas as regalias de um holandês. Esta proteção irrita alguns holandeses, pois muitos turcos, por exemplo, não estão se quer preocupados em falar a língua natal do país.
Percebi grande diferença depois que comecei a falar holandês. As pessoas se abriram e tornaram-se mais atenciosas comigo. Por isso considero a questão preconceito também muito relativa (vide um post antigo) como tudo hoje. Sofre discriminação quem não se adapta a um novo estilo de vida. A partir do momento em que você decide viver em outro país é imprescindível que você queria conhecer a cultura e tornar-se parte dela.
Claro que a situação que eu descrevo possui suas exceções, porém se pode mudar muitas coisas através da adoção de uma nova postura. O respeito é conquistado com o tempo, seja no seu país de origem ou em qualquer lugar do mundo.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Lula e Berlusconi

O texto abaixo foi escrito por Diogo Mainardi em 2003.


O nosso Berlusconi
Diogo Mainardi

Lula é igual a Silvio Berlusconi, o primeiro-ministro da Itália. É o Berlusconi da esquerda. Berlusconi assumiu o poder dois anos atrás com a promessa de reativar a economia italiana. Como nesse período a economia italiana ficou estagnada, crescendo ainda menos que a média européia, Berlusconi dobrou a aposta e passou a prometer que em breve o governo dará início a uma mítica fase dois. Lula adotou a linguagem berlusconiana e também prometeu dar início à fase dois. Essa fase dois, segundo o governo brasileiro, é um ciclo de desenvolvimento que irá gerar um crescimento de 4% do PIB. Berlusconi ganhou as eleições prometendo crescimento de 4% do PIB.
Berlusconi, como Lula, não gosta de ser interrogado pela imprensa. Prefere discursar para platéias de adoradores, indo de um lado para o outro do palco, com o microfone na mão, aplaudido pela claque, como um animador de auditório. Berlusconi não tem grande educação formal, mas seus escorregões gramaticais servem para tirar a pompa e aumentar a identificação do público. Em todas as ocasiões, Berlusconi conta a fábula de sua ascensão social. De origem humilde, tornou-se o homem mais rico da Itália, uma versão capitalista de Lula, o retirante nordestino que saiu do pau-de-arara para o Palácio do Planalto. O pensamento de Berlusconi só admite parábolas futebolísticas. Ao tratar de economia, da reforma previdenciária ou do Afeganistão, ele sempre cita o Milan, da mesma forma que Lula sempre cita o Corinthians. A diferença é que Berlusconi é dono do Milan, enquanto Lula não passa de um torcedor do Corinthians. É a diferença que há, atualmente, entre direita e esquerda.
Berlusconi acha que tudo pode ser resolvido com uma boa conversa. Os jantares em sua casa são mais importantes que as reuniões no Parlamento, mais ou menos como os churrascos de Lula. Berlusconi acha também que seu prestígio internacional pode levar a uma rápida solução dos maiores problemas da humanidade. Ele já se atribuiu o mérito de ter evitado uma crise nuclear entre Estados Unidos e Rússia, e, outro dia mesmo, em Israel, apresentou uma receita milagrosa para acabar o conflito no Oriente Médio. Lula é igual. Chegou à reunião do G-8 e logo tirou da cartola uma solução muito simples para a fome no mundo. Os países desenvolvidos ignoraram a proposta, mas nossos chargistas perceberam seu alcance histórico. Chico Caruso, na TV, mostrou Lula marcando um gol de letra contra a fome. Berlusconi e Lula contam com o apoio irrestrito da TV. Berlusconi é dono da TV italiana. Lula não é dono de nada, mas conhece o segredo do cofre para salvar os empresários do setor.
Outras analogias entre Berlusconi e Lula: ambos reclamam dos juros, ambos culpam os governos anteriores por seus fracassos, ambos concederam anistias fiscais para cobrir o rombo estatal, ambos pressionam o FMI para tirar os investimentos em infra-estrutura do cálculo do déficit, ambos prometem criar empregos através de incentivos à produção. Pouco a pouco, os italianos estão se desencantando com Berlusconi, como demonstraram as eleições da semana passada. O populismo berlusconiano começa a perder o fascínio dois anos depois de conquistar o governo. Lula ainda chega lá.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

A Não Noticia


Lula na Itália? Onde você viu isso? Claro, claro, a Ilze Scamaparini te contou. Mas, como eu não posso ver os belos casacos da Ilze não fiquei sabendo que o guia genial está por aqui. Eu entendo que ela faça a cobertura da visita do Lula. Como se sabe, não é todo dia que um Papa morre, e não quero que o Ali Kamel perceba que a Itália não é assim tão relevante. Fui procurar algo na imprensa italiana sobre a visita e nada encontrei. Mas como "sou brasileiro e não desisto nunca" continuei procurando. Pensei: como é que pode a imprensa italiana não noticiar nada da visita do chefe de estado do gigante latino-americano, do homem que foi o inicio de tudo, o homem que possibilitou que Obama fosse eleito? Não, não é possível, deve ter sido publicado algo sobre a visita do nosso guia genial. E não é que achei?! Estava lá, no cantinho do site do Corriere della Sera. Lula sendo recebido por Berslusconi junto aos brasileiros do Milan. Empolgado fui ver do que se tratava. Entretanto, para a minha decepção, não tinha nada escrito. Eram apenas fotos. http://www.corriere.it/gallery/Sport/vuoto.shtml?2008/11_Novembre/lula/1&1 A grande vantagem de morar fora è perceber o tamanho da nossa irrelevancia. Ninguém da bola para o Brasil. Não, não tenho complexo de vira lata. Não tenho recalque por ser brasileiro. Nunca me senti inferior por ser brasileiro. Não acho que exista tanta diferença entre aqui e aí. Como diria Bruno Tolentino "O ser humano é incorrigível, só que abaixo do equador se percebe mais facilmente". Só não me incomodo mais que o Brasil seja visto como o país do futebol, de mulheres fáceis, do Carnaval. Não vou perder meu tempo mostrando que temos Bruno Tolentino, Mário Faustino, Machado de Assis. Não preciso sair gritando que " Lavoura Arcaica " o livro e o filme são duas obras primas. Não me importo que Kill Bill seja mais comentado que Lavoura Arcaica, que Quentin Tarantino seja venerado. Kill Bill é um sinal dos tempos. Não obstante, somos irrelevantes, paradoxalmente, por bons motivos. O Brasil, e isso não é um cliché,è um dos poucos países em que os Povos do Livro convivem harmoniosamente. E isso não tem nada a ver com o homem cordial de Sérgio Buarque de Holanda. O que Sérgio Buarque denuncia é o nosso servilismo, a nossa falta de interesse por tudo aquilo que é perene, uma tentativa de sempre dessacralizar as coisas. Como mostra o pai do Chico, no período colonial as pessoas frequentavam a Igreja não para rezar mas para serem vistas - rezar não era algo espiritual mas apenas um compromisso social. Esse nosso desapego e desprezo pelas grandes questões é algo bastante positivo nas relações. É o relativismo suave de que fala João Pereira Coutinho, "O relativismo das coisas menores. Como um tempero que se coloca sobre o prato da vida, só para dar algum sabor mortal a tudo o que fazemos e sentimos. É o relativismo suave que ensina que nada tem uma importância tão absolutamente esmagadora quando o fim é certo e o esquecimento também". O nosso grande problema é que levamos esse relativismo suave para todos os campos. O mundo acadêmico brasileiro é isso. Não existe o confronto, o debate. A única discussão é sobre quem comeu quem. Podem fazer um teste: pesquisem sobre Bruno Tolentino. Não se discute a sua obra mas a sua biografia. Temos o prazer do conchavo. O PSDB por exemplo jamais fez uma prévia para escolher um candidato a presidente. Alckmin se tornou candidato durante um jantar ente FHC, Serra, Aécio e Tasso Jereissati. Aécio Neves por exemplo é o paladino dos conchavos. Segundo Aécio, a eleição de Márcio Lacerda é o exemplo que Minas tem a dar ao Brasil. Aécio, que como gosta de dizer é carioca, pode ficar com essa Minas Gerais. Minas para mim é Adélia Prado, Murilo Mendes e Drummond

Para Stefânia


Sou um obcecado pela passagem do tempo. Mais especificamente sobre os anos que perdemos - os anos que o gafanhoto comeu. Como diz Deus no Antigo Testamento "Eu vos recompensarei pelos anos que o gafanhoto comeu" .
Então, um feliz aniversário Stefânia!


Bruno Tolentino

Provavelmente porque o ser se intranqüiliza
de já não ser o que ia sendo; intensamente,
porque as fogueiras de um martírio impenitente
são seus triunfos, seus troféus cheios de cinza;
e finalmente porque tudo o que agoniza
quer promulgar, solenizar o impermanente,
o coração, naquele fundo ambivalente
da coisa humana, momentâneo como a brisa,
mas persuadido de que as músicas da mente
hão de reter do ser algo mais que uma soma,
o coração vive das sombras de um aroma.
Só muito raramente esse iludido sente
a força de acordar antes que a luz cadente
o deixe louco como à mosca na redoma.

Pedro Fonseca

domingo, 9 de novembro de 2008

Reinaldo Azevedo

O cubanófilos brasileiros — e o maior de todos eles, como sabemos, é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva — querem revogar a Lei da Anistia. Apenas para um dos lados, é claro. Aqueles que aplicaram a Manual da Guerrilha, de Carlos Marighella, continuariam por aí — ou melhor: por lá. Alguns dão expediente no Palácio do Planalto. O manual de Marighella fazia a defesa do terrorismo. Segundo a Constituição brasileira, terrorismo é crime imprescritível.
A lambança em relação ao assunto obedece ao jeito petista de fazer as coisas. Começou com os ministros Tarso Genro (Justiça) e Paulo Vannuchi (Direitos Humanos), um tanto modestamente. De saída, ninguém comprou a tese porque, afinal, a Lei da Anistia é clara e tem uma historia política, comprometida com a pacificação do país. Eles insistiram. O PT chegou a divulgar uma nota dizendo que não era o caso de rever nada. A tese da dupla ganhou alguns simpatizantes na imprensa — os isentos de um lado só, velhos conhecidos. O parecer da Advocacia Geral da União (AGU), que só cumpriu o seu dever técnico — até Tarso admite isso —, assanhou os “vitimistas” de plantão, alguns deles usuários práticos do manual do bom terrorista de Marighella.
Lula estaria pressionando a AGU por um parecer “neutro”, já que a questão acabará mesmo sendo decidida pelo STF. Se isso acontecer, AGU pra quê? Que seja substituída pelo Magistrado-em-chefe: o próprio Apedeuta.
Mas volto ao primeiro parágrafo. Apedeutakoba, que deixou prosperar esse debate bizantino, lembrou de pedir a Barack Obama o fim do embargo a Cuba. Embutiu a sua reivindicação nas primeiras palavras de saudação ao presidente eleito dos Estados Unidos. Lula quer uma espécie de “anistia” histórica para o regime criminoso de Fidel e Raúl Castro sob o pretexto de que está defendendo os interesses do sofrido povo cubano. O embargo, hoje, já não tem efeito pratico nenhum. A ditadura e a miséria em Cuba são obras dos facínoras que a governam e nada tem a ver com o dito-cujo. Seu fim, sem a exigência da contrapartida democrática, seria admitir a tirania como aceitável.
Não! Os cubanófilos não querem saber de anistia política em Cuba. Tampouco de condenar torturadores — porque, claro, teria de começar pelo seus dois maiores homicidas: Fidel e Raúl Castro. Ao contrário, não é? Lula está empenhado em garantir a sobrevida da ditadura desses dois humanistas, que são 2.700 vezes mais homicidas — considerando-se os mortos por 100 mil — do que a ditadura militar que houve no Brasil.
Assim, segundo os critérios do PT, as 424 (¹) mortes havidas durante a ditadura brasileira fazem os facínoras, mas as 95 mil (²) havidas em Cuba fazem os heróis. Essa gente pouco séria tem, no entanto, de ser levada a sério. E combatida.***
(1) Os números não são meus. Estão no livro Dos Filhos Deste Solo, do petista Nilmário Miranda. Mas atenção! Pessoas mortas ou desaparecidas efetivamente ligadas a organizações de esquerda somam 293 (ver lista abaixo), incluindo guerrilheiros e terroristas que morreram de arma na mão e quatro justiçamentos (esquerdistas executados pelos próprios “companheiros”). Para se chegar a 424, incluem-se supostos casos, mas sem comprovação. A lista é esta:ALN-Molipo – 72 mortes (inclui quatro justiçamentos)
PC do B – 68 (58 no Araguaia)
PCB – 38VPR – 37
VAR-Palmares – 17
PCBR – 16
MR-8 – 15
MNR – 10
AP – 10
POLOP – 7
Port - 3
(2) Fidel mandou matar em julgamentos sumários 9 479 pessoas. Estima-se que os mortos do regime cheguem a 17 000. A fonte: O Livro Negro do Comunismo. Dois milhões de pessoas fugiram do país – 15% dos 13 milhões de cubanos. Isso corresponderia a 27 milhões de brasileiros no exílio. Dados esses números, Fidel matou, pois, 130,76 indivíduos por 100 000 habitantes; Pinochet, o facínora chileno, 24; a ditadura brasileira, 0,3.
O Coma Andante é 435,86 vezes mais assassino do que a ditadura brasileira, que encheu de metáforas humanistas a conta bancária de Chico Buarque. A história dirá quem foi Fidel? Já disse! Permaneceu 49 anos no poder; no período, passaram pela Casa Branca, lá no "Império" detestado por Niemeyer, dez presidentes!
Atenção: 78 mil pessoas morreram afogadas tentando fugir de Cuba. Sair de lá, como sabem, era e é proibido. Assim, o regime de Fidel matou 95 mil pessoas — o que torna o tirano 2.700 vezes mais assassino do que a ditadura brasileira.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Alexandre Soares Silva

Alexandre Soares Silva é o melhor blogueiro brasileiro. Junto com Diogo Mainardi, Soares Silva é a pessoa que mais entende de literatura inglesa no Brasil. João Pereira Coutinho lembra muito o estilo do Alexandre Soares Silva.
Alexandre é brilhante escrevendo tanto sobre literatura quanto sobre politica. De tudo o que foi publicado sobre a eleição de Obama, paradoxalmente, o melhor texto foi escrito em 2003 por Soares Silva. O texto trata do antiamericanismo difuso na sociedade. Segue abaixo o texto.
Alexandre Soares Silva
Antiamericanismo
O antiamericanismo é o antisemitismo moderno. As pessoas vêem filmes de nazistas e acham aquilo absurdo, como se não fossem capazes de sentir a mesma coisa. Mas são. Simplesmente aprenderam que o antisemitismo é feio, e escolheram outro povo pra odiar.
Não é político. Eles podem dizer que odeiam Washington, não o povo americano; mas na mente e nos jornais deles Bush virou uma caricatura tão vil quanto a que os nazistas faziam dos judeus. E toda a imagem que fazem dos americanos - gordura, hambúrguer, serial killers - é racista. E o jeito com que pessoas (que se consideram boas) comemoraram a kristallmorgen de 11 de setembro! Prevejo Daschaus contra americanos – celebradas por franceses em livros que serão resenhados favoravelmente pela Caros Amigos e pela Folha também, e pela TV Cultura. E a capa da Veja será, Eles Fizeram Por Merecer. Ou talvez A Fúria Justa.
A diferença, dizem eles, é que os judeus foram vítimas inocentes, os americanos são culpados vis. Como se os nazistas não se achassem vítimas da opressão judaica. Era exatamente assim que se achavam: vítimas da opressão judaica. Não há diferença entre o ódio de Eichmann e o ódio de José Arbex. Havia uma suposta opressão cultural - o intelectualismo judeu antes, o infantilismo americano agora - e uma suposta opressão político financeira - os marionetes judaicos em Washington antes, e os marionetes americanos em Israel agora. As duas expressões antisemitas em itálico são de Goebbels e Hitler. As duas expressões antiamericanas em itálico estão nos jornais todos os dias.
Olhem, a romancista Margaret Drabble escreveu isto num
jornal:
"My anti-Americanism has become almost uncontrollable. It has possessed me, like a disease. It rises up in my throat like acid reflux, that fashionable American sickness. (…)There, I have said it. I have tried to control my anti-Americanism, remembering the many Americans that I know and respect, but I can't keep it down any longer. I detest Disneyfication, I detest Coca-Cola, I detest burgers, I detest sentimental and violent Hollywood movies that tell lies about history. I detest American imperialism, American infantilism, and American triumphalism about victories it didn't even win."
Agora substituam antiamericanismo por antisemitismo, americanos por judeus. Fica mais ou menos assim:
“Meu antisemitismo se tornou quase incontrolável. Ele tomou conta de mim, como uma doença. Ele sobe na minha garganta como refluxo gástrico, essa doença judaica da moda. Pronto, eu disse. Tentei controlar meu antisemitismo, lembrando de vários judeus que eu conheço e respeito, mas não consigo me controlar mais. Detesto todo tipo de talmudização da cultura, detesto bagels, detesto falafels, detesto a arte degenerada dos pintores judeus, que mentem sobre a natureza humana. Detesto o cartel judaico, a esperteza judaica, e a alegria dos judeus a respeito de um domínio político-financeiro na Europa, quando na verdade esse domínio pode muito bem ser revertido se agirmos a tempo.”
Tudo o que fiz foi trocar um povo pelo outro, um clichê pelo outro, e uma paranóia pela outra. Se a segunda versão parece muito mais horrível do que a primeira, é porque agora é ok odiar os americanos, está liberado. Não era assim que os alemães se sentiam em relação aos judeus?
Realmente acho que se algum dia houver uma juventude hitlerista (claro, com outro nome) no Brasil, contra os americanos, ela vai buscar membros através da MTV e da revista Trip. Raspe a canela e o tênis de um jovem numa passeata, e verá que é um trompe-l´oeil pintado sobre botas.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Obama


Será mesmo que eu vou ter que escrever sobre a vitória do Obama? Não existe assunto que me dê mais preguiça! Não consigo entender que pessoas de outros países comemorem tanto a vitória de um presidente americano.
Hoje na Universidade, parecia que a seleção italiana tinha vencido a copa. Todos lendo os jornais em busca de mais uma frase do grande orador, do homem que mudará o mundo. Essa minha preguiça não tem nada a ver com o fato de ter escrito que McCain seria eleito[Fogo de Palha]. Os americanos preferiram um patife, pior pra eles. A verdade é que tenho preguiça de ilusões. Já não acredito mais em Papai Noel, fada madrinha, Sasa Mutema e muito menos em salvadores da pátria.
Amanhã o mundo continuará o mesmo. Talvez um pouco melhor, talvez um pouco pior. Tendo a achar que um pouco melhor. O governo de Barack Obama representará o fim de ilusões. Assim como nós, brasileiros, ficamos um pouco mais maduros politicamente, com a presidência do Primata Presidencial , os americanos também ficarão. Obama é simplesmente um Lula graduado em Harvad.
Um usou a condição social como escudo à criticas, e o outro a questão racial. Qualquer pergunta era vista como preconceito. Mas ao contrário do nosso que foi financiado a vida inteira por um partido, Obama teve sua carreira acadêmica financiada por Khalid al-Mansur. al-Mansur representa os interesses do príncipe saudita Alwaleed, nos Estados Unidos. Alwalled se tornou famoso quando teve a sua doação de dez milhões de dólares, à cidade de Nova York, recusada pelo ex-prefeito Rudolph Giuliani. Na época, Giulian alegou que não poderia aceitar a doação de alguém que tinha afirmado que o 11/09 era apenas uma resposta às políticas americanas pró-Israel.
A relação entre Obama e al-Mansur já seria suficiente para não se votar em Obama. Eu pouco me importo se ele é negro, mameluco, branco, amarelo. O que me preocupa é que as pessoas simplesmente deixaram de prestar atenção aos fatos. Ficaram abobadas, anestesiadas. E a realidade é que Obama nunca se preocupou em responder as dúvidas que pairam sobre o seu passado. O advogado Philip Berg, entrou na justiça para que Obama mostrasse a sua certidão de nascimento. Existe uma forte suspeita de que Obama, não tenha nascido nos Estados Unidos, o que o tornaria inelegível. Obama ao invés de acabar logo com a discussão e mostrar a porcaria do documento preferiu recorrer a artimanhas jurídicas. Eu tenho a ligeira impressão que dá muito menos trabalho contratar um despachante que um advogado.
Apesar disso tudo, acho que essa eleição serviu para uma coisa. Ficou claro que Arnaldo Jabor já deu o que tinha que dar. Tenho dois livros de Jabor, gosto de seus filmes e durante muito tempo o tive como um grande analista . Mas acho que ele cansou de escrever, de pensar. O seu artigo de ontem no Estadão é deprimente, patético. Não consigo acreditar, que a mesma pessoa que escreve isso: " a perua careta e despreparada Sarah Palin, que seria a 'boceta de Pandora' final para o mundo, a mulher de onde sairiam todos os males. McCain é prosa e Obama é poesia" possa ter escrito uma das melhores resenhas do livro Os Deuses de Hoje do Bruno Tolentino. Caro Jabor, volte a filmar.
O espírito dessa campanha pode ser resumido pelo vídeo que vai abaixo.

Mudanças na América. Só nos resta saber quais serão.

Há 50 anos os EUA segregavam legalmente os negros, e hoje eles elegeram, com grande diferença de votos, um presidente afro-descendente. A vitória de Obama mostrou a insatisfação do país com a política atual e o quanto eles clamam por mudança. Ao contrário do que muitos imaginavam (por exemplo, João Pereira Coutinho em post logo abaixo) os EUA derrubaram a teoria de que nas urnas o real espírito americano é racista. Uma vitória que ficará para história, não só por ser um candidato negro, mas pela conquista do partido democrata em estados de tradição republicana.
O que me pergunto agora é como será esse novo governo. Durante a campanha os veículos do mundo inteiro (exceto de Israel) foram claros em sua campanha a favor de Obama. Meses atrás, não me lembro ao certo quantos, a revista Piauí divulgou uma matéria com o perfil do democrata que descrevia um herói. Um homem, que superou uma origem difícil, foi o primeiro negro a presidir a publicação jurídica em Harvard e que agora buscava o cargo de maior importância na política mundial. Grande parte da mídia (televisiva e impressa) brasileira idealizou o candidato Barack Obama. O espaço destinado ao candidato democrata era vezes maior se comparado as matérias relacionadas a John McCain. Confesso que também fui contaminada por este espírito. Depois de tanto ouvir falar no brilhantismo de Obama passei a acreditar na imagem diplomática do candidato.
Para o Brasil resta saber até que ponto o caráter democrático e negociador de Obama trará bons resultados ao país. O presidente Lula foi claro ao mostrar sua preferência democrata, “Da mesma forma como o Brasil elegeu um metalúrgico e a Bolívia elegeu um índio, seria um avanço cultural a vitória de um negro na maior economia do mundo". Eu só espero que Obama não siga a mesma trajetória dos candidatos citados pelo nosso presidente.
Opiniões se dividem a respeito de qual candidato seria melhor para o Brasil. Na prática, McCain traria resultados mais rápidos já que é um defensor do livre comércio, ao contrário de Obama que é contra medidas que prejudicariam, por exemplo, a entrada do nosso etanol nos EUA.
A grande esperança mundial inclusive brasileira, é que Obama, como um político democrático e mais aberto ao diálogo, possa reatar laços diplomáticos com o mundo. Transformar a figura autoritária dos EUA e do governo Bush em um país mais aberto. Paris fez campanha “Goodbye George”. O que a comunidade européia espera agora é que o país seja um aliado mais próximo na luta contra novos desafios, que não são poucos, começando pela situação atual dos EUA.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Bruno Tolentino

O que vai abaixo é um trecho do apêndice do livro "A Balada do Cárcere" de Bruno Tolentino. Como escreveu Bandeira,"Uns tomam éter, outros cocaína./Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria". Eu ao contrario tomo Tolentino.

" A vida é cruel. Manuel e Noel, Drummond e Caymmi, não deveriam nunca envelhecer. Mas o fato è que guardamos nossas jóias e nossas cartas de amor com o mesmo deslumbramento, mas em estojos separados; e quando os vamos abrir, no primeiro deles achamos exatamente o mesmo valor, o mesmo brilho, realçado pela patina do tempo; mas no outro encontramos a tinta esmaecida, o papel amarelado, em suma, a palidez desbotada daquilo que tanto amávamos,que um dia nos resumiu e que de repente se tornou quase irreconhecível, quase ilegível, doce apenas como a vaga lembrança da emoção de um tempo que se foi como um assovio na noite ..."
Bruno Tolentino

domingo, 2 de novembro de 2008